Por
abcd
Como seria a vida se alguns de nós fossemos imortais?
Que prazer teria sido ver a sociedade evoluir, passar das pedras lascadas ao ferro fundido, das cavernas aos arranha-céus, das carroças aos carros, dos carros aos aviões, dos curandeiros aos médicos… Meu Deus…
Para não falar das pessoas que teríamos visto: profetas, escritores, pintores, escultores, arquitectos, todos fundamentais para o nosso bem-estar enquanto sociedade…Cristo, Jesus de Nazaré, como seria estar na sua presença? Conhecê-lo, falar com ele…aprender com ele…que privilégio…ou será que não teríamos a percepção da sua dimensão espiritual e humana; dos seus feitos (tão questionáveis aos olhos humanos) como curar cegos, ressuscitar mortos, apelar ao invisível para os problemas do mundo… A verdade é que a sua vida está repleta de episódios duvidáveis para o cérebro racional. E duvido muito que eu, caso fosse imortal e seu amigo, o pudesse compreender! Como acreditar num homem que diz amar os seus inimigos como ama os amigos, que dá o que tem para que outros possam viver, que apela aos homens que esqueçam a materialidade e se compreendam mutuamente no amor e na fé, que destrói santuários por estes serem sinónimos de comércio e se exalta com os homens por condenarem prostitutas e mulheres adúlteras?! Como é que eu, um simples homem, que luto todos os dias para arranjar dinheiro para possuir mais bens materiais, que condeno homens e mulheres por serem diferentes daquilo que defini como “Correcto”, que não abdico de uns saldos para atafulhar mais roupa no armário, que esqueço os mais necessitados durante todo o ano e que, quando entro num desses santuários comerciais, não tenho a coragem de os destruir e de falar, gritar bem alto, que aquilo não está correcto (não está… não estava e não estará…) poderia tê-lo compreendido?
Como? Como poderia eu reconhecer e aceitar o homem que dava pelo nome de Jesus de Nazaré?
Talvez, se eu fosse imortal, pudesse constatar que evoluímos muito a nível material, muito mesmo…tanto que seria difícil acreditar no poder destes seres humanos. E decerto teria aprendido com pintores e arquitectos, ou médicos, ou pedreiros, ou carpinteiros, ou simplesmente homens que pensavam sentados numa floresta carregada de vida. Sim, teria aprendido muito com eles…Mas…há sempre um mas…as guerras…as violações dos direitos humanos…a fome…a miséria…como é que passámos de rodas rudimentares de madeira a aviões comerciais e não conseguimos passar de guerras de cem anos a paz entre todos nós? Como é possível termos passado de carne crua a lasanhas e não termos sequer farinha para dar a milhões de pessoas que perecem todos os dias desnutridas, como é possível termos passado de curas por fumos e rezas à nanotecnologia e não termos medicamentos rudimentares que salvariam vidas em África? Como é possível termos humanos a ganhar milhões de euros mensais por chutarem bem uma bola e termos outros com menos de um euro por mês, os mesmos que fazem, em condições degradantes, as bolas que os outros chutam. Como?
No fim de contas, atrevo-me a dizer que ainda bem que não somos imortais. Mais, ainda bem que Jesus não era imortal porque, se fosse, decerto teria desfalecido com tanta evolução. E nós, que no século XXI nós orgulhamos de dizer que pertencemos a um mundo evoluído e organizado, devíamos pensar que há 2000 anos já se nos deparavam os mesmos problemas de hoje, talvez menos ocultos do que agora. Mas existiam! E se Cristo fosse vivo agora, então teria muitos cegos para curar, muitos templos para destruir, muitos mortos para ressuscitar! E sabem o que é mais triste? Acredito que o condenaríamos da mesma forma…só as armas seriam diferentes, não haveria romanos a chicotear mas existiriam jornais a condenar e pessoas a acreditar, haveria celas escuras prontas para a matança social com que todos nós nos deliciamos.
Creio que não seria agradável ser imortal, para ver Cristos constantemente presos e amarrados e venerar homens e mulheres que mais não fazem do que usufruir e gastar dinheiro em modas e paródias.
No fim, tenho a certeza de que um desses Cristos olharia para nós cansado, derramaria as mesmas lágrimas milenares e diria novamente a frase mais verdadeiramente enganosa da história da humanidade:
“ Perdoa-lhes Pai, pois eles não sabem o que fazem!”
Hoje, temos de dizê-la de outra forma:
“ Perdoa-nos Pai, pois todos sabemos o que fazemos!”
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Que prazer teria sido ver a sociedade evoluir, passar das pedras lascadas ao ferro fundido, das cavernas aos arranha-céus, das carroças aos carros, dos carros aos aviões, dos curandeiros aos médicos… Meu Deus…
Para não falar das pessoas que teríamos visto: profetas, escritores, pintores, escultores, arquitectos, todos fundamentais para o nosso bem-estar enquanto sociedade…Cristo, Jesus de Nazaré, como seria estar na sua presença? Conhecê-lo, falar com ele…aprender com ele…que privilégio…ou será que não teríamos a percepção da sua dimensão espiritual e humana; dos seus feitos (tão questionáveis aos olhos humanos) como curar cegos, ressuscitar mortos, apelar ao invisível para os problemas do mundo… A verdade é que a sua vida está repleta de episódios duvidáveis para o cérebro racional. E duvido muito que eu, caso fosse imortal e seu amigo, o pudesse compreender! Como acreditar num homem que diz amar os seus inimigos como ama os amigos, que dá o que tem para que outros possam viver, que apela aos homens que esqueçam a materialidade e se compreendam mutuamente no amor e na fé, que destrói santuários por estes serem sinónimos de comércio e se exalta com os homens por condenarem prostitutas e mulheres adúlteras?! Como é que eu, um simples homem, que luto todos os dias para arranjar dinheiro para possuir mais bens materiais, que condeno homens e mulheres por serem diferentes daquilo que defini como “Correcto”, que não abdico de uns saldos para atafulhar mais roupa no armário, que esqueço os mais necessitados durante todo o ano e que, quando entro num desses santuários comerciais, não tenho a coragem de os destruir e de falar, gritar bem alto, que aquilo não está correcto (não está… não estava e não estará…) poderia tê-lo compreendido?
Como? Como poderia eu reconhecer e aceitar o homem que dava pelo nome de Jesus de Nazaré?
Talvez, se eu fosse imortal, pudesse constatar que evoluímos muito a nível material, muito mesmo…tanto que seria difícil acreditar no poder destes seres humanos. E decerto teria aprendido com pintores e arquitectos, ou médicos, ou pedreiros, ou carpinteiros, ou simplesmente homens que pensavam sentados numa floresta carregada de vida. Sim, teria aprendido muito com eles…Mas…há sempre um mas…as guerras…as violações dos direitos humanos…a fome…a miséria…como é que passámos de rodas rudimentares de madeira a aviões comerciais e não conseguimos passar de guerras de cem anos a paz entre todos nós? Como é possível termos passado de carne crua a lasanhas e não termos sequer farinha para dar a milhões de pessoas que perecem todos os dias desnutridas, como é possível termos passado de curas por fumos e rezas à nanotecnologia e não termos medicamentos rudimentares que salvariam vidas em África? Como é possível termos humanos a ganhar milhões de euros mensais por chutarem bem uma bola e termos outros com menos de um euro por mês, os mesmos que fazem, em condições degradantes, as bolas que os outros chutam. Como?
No fim de contas, atrevo-me a dizer que ainda bem que não somos imortais. Mais, ainda bem que Jesus não era imortal porque, se fosse, decerto teria desfalecido com tanta evolução. E nós, que no século XXI nós orgulhamos de dizer que pertencemos a um mundo evoluído e organizado, devíamos pensar que há 2000 anos já se nos deparavam os mesmos problemas de hoje, talvez menos ocultos do que agora. Mas existiam! E se Cristo fosse vivo agora, então teria muitos cegos para curar, muitos templos para destruir, muitos mortos para ressuscitar! E sabem o que é mais triste? Acredito que o condenaríamos da mesma forma…só as armas seriam diferentes, não haveria romanos a chicotear mas existiriam jornais a condenar e pessoas a acreditar, haveria celas escuras prontas para a matança social com que todos nós nos deliciamos.
Creio que não seria agradável ser imortal, para ver Cristos constantemente presos e amarrados e venerar homens e mulheres que mais não fazem do que usufruir e gastar dinheiro em modas e paródias.
No fim, tenho a certeza de que um desses Cristos olharia para nós cansado, derramaria as mesmas lágrimas milenares e diria novamente a frase mais verdadeiramente enganosa da história da humanidade:
“ Perdoa-lhes Pai, pois eles não sabem o que fazem!”
Hoje, temos de dizê-la de outra forma:
“ Perdoa-nos Pai, pois todos sabemos o que fazemos!”
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17 comentários:
Nota de edição
Ilustrei o artigo com imagens retiradas da internet. Para alguns, elas estarão aqui a despropósito mas, do meu ponto de vista, embora as imagens assumam um registo jocoso, a mensagem essencial nelas e no texto é que a evolução é, por vezes, aparente.
Caro abcd
Muito obrigada por mais este belo texto. Curiosamente, encerra-o do modo semelhante àquele que Sophia de Mello Breyner usou para encerrar o poema intitulado As pessoas sensíveis ("Perdoai-lhes Senhor porque sabem o que fazem).
Um abraço
Meu caro(a) abcd
que delícia de reflexões e também inquietações!
É verdade. Todos partilhamos destas inquietudes, todos as reconhecemos, e todos continuamos apenas a olhar para o nosso próprio umbigo, num narcisismo que nos faz ficar cegos perante a realidade que...simplesmente passa ao lado. Para não vermos e, quiçá sentirmos o remorso de nada fazermos, enterramos a cabeça na areia como a avestruz.
Mais uma vez um beijo, e desta vez receba também um abraço
Fátima:
As ilustrações estão excelentes. Adoro a última. Apesar de toda a evolução, continuam a persistir (umas mais camufladas que outras), as históricas diferenças de género.
Outra coisa. Está difícil enviar comentários.
1º não assume de imediato a minha identificação. Lá tenho de escrever sempre as minhas credenciais;
2º rara é a vez que não tenho de eliminar um comentário porque a demora é tanta, que tenho tendência a clicar, outra e outra vez! Bolas!
~Mas isso tu não podes resolver. São apenas desabafos
Beijinhos
Ainda cá volto. Só para me deixar em mentira, o comentário anterior assumiu de imediato a minha identidade. Está agozar comigo!!!!!!!!!!
Augusta:
vou meter a colher onde não fui chamado, mas o teu problema é de rede e não do blog. Tudo indica que a tua rede está muito lenta. Experimenta medir a velocidade da tua rede em http://www.speedtest.net. Se teu ping no servidor ficar acima de 500 ms então tua rede está lenta e aí só mudando para outra.
Ao abcd quero felicitá-lo por este filosófico pensamento tão oportuno ao momento que vivemos. Várias vezes tenho refletido sobre esse assunto e chegado à conclusão que o ser humano é talvez o animal mais irracional que existe no nosso planeta. Se cada um de nós se propusesse abrir mão de um pouco do que tem para dividir com os mais necessitados, com certeza não existiria tanta desigualdade. Mas... também nunca movi uma palha para, pelo menos, tentar mudar isso.
abcd: mais um texto seu que vem enrriquecer culturalmente os numerosos visitantes do blog, e convida os leitores à reflexão, à meditação, mas sobretudo à reconversão tão desejada por todos nós. Infelizmente, como deixa crer,activar a funcionalidade, do bem-fazer, executando o sentimento de arrependimento, é um passo que continua suspenso pela humanidade, repetindo vezes sem fim: "que podemos nós... pobres mortais?! Um grande abraço para todos, com gratidão ao autor do texto rico...
O homem pode ter evoluído, mas como diz E. Morin, sociólogo e filósofo francês: "Tudo o que ameaçava o homem das cavernas, perigos, trevas, fome, sede, fantasmas, demónios, tudo passou para o interior das nossas almas, tudo nos inquieta, nos angustia, nos ameaça por dentro."
Vale a pena pensar nisto...
Lurdes
Augusta
O blogger anda em mudanças, o que provoca perturbações momentâneas (ainda não tive tempo de ver as propostas; só quando tiver que lidar com as alterações é que o farei... que remédio). De facto, deixou de assumir automaticamente a nossa identificação e é por esse motivo que temos que a introduzir nos comentários. Mas tu, enquanto membro do blog, tens uma alternativa: cá em cima do lado direito, mandas iniciar a sessão.
É verdade que também anda um bocadinho lento (por vezes) na aceitação dos comentários, mas aí tens que ter paciência e esperar um bocadinho.
Beijos
Augusta
"As galinhas apressadas têm os pintos carecas"! Era o que me dizia o João e, quase sempre, com razão, como se comprova com o caso. Se tivesse lido todos os teus comentários escusava de escrever mais este.
Não foi para te deixar em mentira. O que se passa é que, assim que te identificas, o blogger assume a identificação enquanto tiveres a sessão aberta.
Beijos
Anónimo (Baptista?)
Obrigada pela achega que, embora a dirijas à Augusta, tenho a certeza de que muita gente aproveitou. Mas não é o caso (felizmente, porque mudar de rede é uma dor de cabeça!). Eu própria tenho, às vezes, os mesmos problemas e não se devem à rede. Fiz a medição e o meu ping é de 9.
Beijos
Lurdes
Vale, sim!
Obrigada e beijos
Caro abcd
Mais um excelente texto para espicaçar consciências,que creio não me enganar,irão continuar adormecidas.
Jesus morreu, e era fatal que morresse,o homem era e continua a ser,limitado, as suas preocupações são demasiado estreitas para crerem na grandeza do seu mistério.
Um abraço
Eduarda
Caro abcd
Mais um excelente texto para espicaçar consciências,que creio não me enganar,irão continuar adormecidas.
Jesus morreu, e era fatal que morresse,o homem era e continua a ser,limitado, as suas preocupações são demasiado estreitas para crerem na grandeza do seu mistério.
Um abraço
Eduarda
Fátima
também acho que esta coisa não anda boa, elimina lá a duplicação
bjs
Eduarda
Eduarda
Feito! Mas que isto, às vezes, anda uma chatice, ai isso anda!
Não estou particularmente preocupada: estou nisto dos blogues há muitos anos e sei bem que, de cada vez que o blogger introduz transformações gerais (só observáveis por quem edita), há sempre alguma perturbação no funcionamento. Mas vai passar.
Beijos
Cara abcd:
Gostei de ler esta sua reflexão e inquietação (como diz a Augusta).
Pensamos, reflectimos mas...não conseguimos fazer melhor. Achamos que essas obrigações só dizem respeito aos outros e que todos as devem ter, menos nós.Que, se os outros fizessem, tb nós faríamos.
Muitas vezes não concordámos com os nossos pais;muitas vezes, os nossos filhos não concordam connosco. E, a discutir o que já foi discutido, continuamos a cometer os mesmos erros.
Concordo consigo: ainda bem somos mortais.
Bjos
Olímpia
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