........................................Em certa aldeia indigente,
........................................isto em tempos já passados,
........................................viviam muito santamente
........................................dois velhinhos bem casados.
........................................A mulher dizia ao companheiro,
........................................juntos os dois:
........................................- Se tu morreres primeiro,
........................................morrerei logo eu depois!
........................................E num coro afectuoso,
........................................ambos diziam ali:
........................................- Eu só peço ao Deus bondoso
........................................que me leve antes de ti!
........................................Nisto, uma pancada forte
........................................na porta se fez ouvir.
........................................Perguntam: Quem é? - A morte!
........................................Venham abrir!
........................................- Diacho, diz o marido,
........................................como há-de isto agora ser?
........................................Tenho aqui um pé dorido...
........................................Vai lá tu abrir, mulher!
........................................Mas ela logo se queixa:
........................................- Valha-me Nosso Senhor,
........................................este flato não me deixa...
........................................Vai lá tu, faz o favor!
........................................E a morte, enfadada,
........................................investiu pelo postigo:
........................................levou os dois velhos consigo!
7 comentários:
Por telefone, ou sempre que lhe faço uma visita, o meu tio Manuel vai-me agraciando com as dádivas da sua memória. Bem-haja!
Fátima:
Boa memória a do seu tio. Também tenho na lembrança algo de semelhante que a minha avó dizia.Quanto ao texto o problema foi quando a morte chegou !!Ah!,Ah!...mas ele mostra como a hipocrisia já grassava por aí.
Um abraço
Quina
vinha no livro da 3ª? Só se no do tio.
Ou então já não me lembro, o que quer dizer que o tio tem melhor memória que eu!
Bolas que amor tinham um ao outro! Abra a porta quem estiver com pressa! Eu por mim, ainda quero andar cá mais uns aninhos...
Beijos, muito especialmente ao tio Manuel
Quina
Não creio que se trate de hipocrisia. O amor é verdadeiro e tenho a certeza de que aqueles dois velhinhos sentem, mesmo, que não são capazes de viver um sem o outro.
A fábula, porém, lembra-nos a nossa condição de seres vivos e para um ser vivo o primeiro dos valores, aquele que a tudo se sobrepõe, é a própria vida. Só os santos são capazes de pôr a vida dos outros à frente da sua.
Um abraço
Augusta
O tio Manuel deve ter feito a escola no início dos anos 30, numa altura em que, embora existindo livro único (escolhido pelas escolas por entre uma lista aprovada pelo governo, a partir de 1933), o regime salazarista ainda não estava bem firmado. O livro da 3.ª classe que nós conhecemos, com a sua ideologia pura e dura, data, apenas, de 1951 (o da 1.ª é de 1941 e o da 2.ª de 1944). Estes livros seriam revistos a partir dos anos 60, com a mudança de programas (1967 o da 1.ª; 72 o da 2.ª e 73 o da 3.ª). Como vês, é natural que o livro de leitura do tio e dos nossos pais seja diferente do nosso. Aliás, o meu já foi diferente do teu, e lembro-me bem das discussões enervadas das pessoas que se escandalizavam por não poderem aproveitar, para os mais novos, os livros dos filhos mais velhos.
Beijos
Fátima:
Curvo-me face à sua sapiência .De facto é muito mais generosa e humana que eu ...Estarei a ficar amarga ? Mas não devia eu que até conheci casais de velhinhos que tanto se amaram em vida e para além da partida de um deles , como sucedeu com os meus próprios pais .Eles que me perdoem ...
Grata pela sua chamada de atenção que me vai também meditar sobre o que me anda a acontecer .
Um abraço
Quina
Quina
A minha é, apenas, mais uma forma de ver as coisas e nem sei ela estaria nas intenções do autor.
Ao ler a fábula lembrei-me de uma frase que se diz muito em Rebordaínhos (não sei se no resto do País): "morrer por morrer, morra o meu pai, que é mais velho!" Ora, não creio que com ela se pretenda demonstrar a falta de afecto dos filhos pelos pais.
Um abraço
Enviar um comentário