sexta-feira, 22 de outubro de 2010

SILÊNCIO...


Por

abcd


Sabem o que me deixa mais feliz quando visito Rebordainhos?

O silêncio…

Este continua o mesmo, não mudou, não necessita de saudades, nem de pedras, nem de putos e muito menos de evolução. Não necessita de saudades porque não as consente na sua ambiguidade, não necessita de pedras ou de suportes porque é em si mesmo um forte indestrutível, não necessita de putos porque os devora nas noites frias de Inverno e não necessita de evolução porque simplesmente não há evolução no divinal.

Atrevo-me mesmo a dizer que só volto a Rebordainhos porque existe esse silêncio, o silêncio da minha mãe reflectido nos seus olhos quando me vêem, o silêncio das paisagens que mudam ciclicamente há décadas sem nunca consentirem essa mudança, mas principalmente o silêncio que me cobre à noite quando vou dormir e ouço as vozes antigas pairarem sobre mim como fantasmas que revejo nas férias. É assim o silêncio em Rebordainhos, puro como a água da Ribeira e ameaçador como os lobos das antigas histórias que nos devoravam em sonhos…

Pergunto-me se será um silêncio só meu, ou se pertencerá aos demais?

Não sei, mas é um silêncio gratuito, que nos é oferecido desde a mais tenra idade e nos é tirado quando nos impomos a vaidade das terras longínquas. Para mim, que deixo hoje as minhas participações neste magnifico blogue, é de longe a característica mais marcante desta pequena aldeia, pois tudo o que antes foi escrito por mim se resume no fundo a esta palavra, ao seu significado, ao seu peso…

...............Silêncio… para que as Saudades sejam sentidas
...............Silêncio… para que as pedras da velha aldeia se ouçam
...............Silêncio… que os putos estão a chegar
...............Silêncio... que eles decidiram ficar
...............Silêncio… pois só assim existe o verdadeiro perdão
Antes de terminar gostaria de agradecer a todos pelas palavras calorosas com que sempre comentaram os meus textos. Obrigado a todos…

Depois gostaria de deixar um abraço especial à Fátima pela simpatia sempre demonstrada e por ter sido verdadeira comigo quando precisei da sua preciosa ajuda.

Por último, espero que não levem a mal o facto de manter o anonimato, é uma escolha minha, e sinceramente não tenho nenhuma explicação válida para vos dar, é apenas uma escolha.

Espero sinceramente que o blogue continue neste caminho, e que continue a desbravar a “ignorância” daqueles que infelizmente não conhecem Rebordainhos…

Cresci e passei os meus anos entre os sábios, e não encontrei nada melhor do que o silêncio
Pirkei Avot 1,17

_________________
Que pena!
Fátima

9 comentários:

Fátima Pereira Stocker disse...

Meu caro abcd

Já to disse por e-mail e deixei-o registado na página: tenho muita pena que dês por terminada a tua participação directa no nosso blog.

Sói que repita o que te vou dizendo quando comento aquilo que escreves: ler-te é um prazer enorme e agradeço-te do fundo do coração que tenhas partilhado connosco as tuas emoções; a tua nostalgia da terra que todos amamos, sobretudo quando são tão poucos a dizê-lo por escrito.

Ler-te faz-nos bem - faz-me muito bem, e é por isso sou eu que tenho que te agradecer profundamente.

Um grande abraço

Fátima Pereira Stocker disse...

Meu caro abcd

Ler-te, foi escutar o murmúrio das fragas, audível somente aos ouvidos mais atentos.

E ainda nos brindaste com a sabedoria dos anciãos de Israel!

Bem-hajas e que Deus te pague.

Augusta disse...

Pena, lamento...sei lá. Talvez também a dor de sentir partir alguém que nos tem maravilhado.
Apetece perguntar o porquê da decisão, se demonstra ser alguém que possui e alimenta um amor tão grande à terra que o viu nascer e acolhe de braços abertos a cada visita que faz.
Mas, quem sou eu para questionar decisões, se conscientemente tomadas?
A si, amigo anónimo, uma palavra apenas - GRATIDÃO.
Para si também, toda a felicidade que merece.

antonio disse...

ABCD: é realmente penoso o seu afastamento da escritura de textos atraentes repletos de poesia misturada com sonhos e realidades, neste blog. que já o considerava respeitosamente como animador dos bons momentos de leitura. Contudo,se assim decidiu, resta-nos lamentar e talvez, como dizem os Franceses: il ny à que les embecils que ne changent pas d'avis...! Obrigado

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho [Braz]

O nosso inefável Mário Soares, quando meteu o socialismo na gaveta, serviu-se dessa máxima dos franceses: "só os burros é que não mudam", disse ele!

Saúdo o teu regresso ao convívio aberto.

Beijos

Anónimo disse...

Estimado poeta ABCD:

É sempre com enorme prazer e admiração que me debruço sobre os seus poemas que falam tão sentidamente da nossa Terra-mãe. Ao contrário dos outros comentadores, não depreendi do seu texto que iria deixar de nos brindar com o seu verbo magnífico, mas apenas "que deixo hoje as minhas participações neste magnifico blogue", ou seja, deixou estas para hoje e, depois, mais virão.
Sinceramente espero que assim seja.

A. Ferandes

Joaquina Salgueiro S.C. disse...

A abcd de quem pela primeira vez li um texto e me deixou extasiada . As suas palavras posso também , se me der licença , apli ca-las à minha Beira Baixa se não considerar a minha ousadia sacrílega .Espero poder, ainda ,ler muitas vezes os seus textos e que ,portanto , não deixe de participar nesta página.
De uma beirã encantada
Quina (Idanhense sonhadora )

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho

Eis como se prova que não há duas leituras iguais. Gostaria muito que tivesses razão.

Beijos

Olímpia disse...

Caro abcd:
Em primeiro lugar, um bem-haja pelos lindos presentes com que aqui nos brindou: os seus textos.
Em segundo lugar,pedir-lhe para continuar a partilhar connosco essas suas reflexões.
Finalmente e, em terceiro lugar, manter a esperança de, mais cedo ou mais tarde,nos surpreender com essas lindas lembranças que a todos nós dizem respeito.

Até breve!...

Bjos

Olímpia