quinta-feira, 7 de julho de 2011

Ainda o diabo

Vamos lá, então, rir-nos um bocadinho:

Francisco José Freire, na entrada sobre a cadeia, remete-nos para Bluteau (1638/1734) que foi um frade (teatino) de grande cultura e autor de um dicionário notável, o Vocabulario Portuguez e Latino (etc., porque o nome é compridíssimo). Atente-se no modo como ele discorre sobre Belzebu, o tal que tenta para a inveja:

Para os menos familiarizados com esta forma de escrever, deixo aqui a transcrição em letra moderna:

“BELZEBUB, ou Belzebut, ou Beelzebub. Deriva-se do Caldaico Beel, ou do Hebraico Baal, que querem dizer Senhor, e de Zibub, que vale o mesmo que Mosca, e Belzebub, que significa Deos Mosca, ou Deos das Moscas, era na Palestina o Idolo, que os Accaronitas invocavão contra a perseguição das moscas; e como as moscas tudo sujão, foi este mesmo ídolo chamado Deos do esterco; e parece que por esta mesma razão chamarão os judeos a Belzebub, Princepe dos Demonios, porque só um princepe de merda pode ser senhor desses immundos espíritos (…)”

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Nota: quem quiser, pode ler no Antigo Testamento o primeiro Livro de Samuel onde os Acaronitas são bastamente citados.


14 comentários:

Idanhense sonhadora disse...

Fátima , até é para dizer: "credo ,tascomungo ,tarrenego éi chifrudo !!!"Claro ,tudo isto acompanhado de 3 sinais da cruz ...
Beijinhos
Quina

Anónimo disse...

Boa tarde,

Convém fazerem mais um comentário no Post anterior para não ficar nos "13".
Já que se fala em diabo, não vá ele tecê-las.........

Fátima Pereira Stocker disse...

Quina

Vade retro!!!

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Anónimo

Não é que tenha alguma coisa contra o 13, mas já lá fui remediar (até porque devia uma resposta).

Obrigada!

Isamar disse...

" ...um princepe de merda..." verdadeiramente. Que nunca se lembre de nós, o chifrudo como aqui muita gente lhe chama.Mais um extracto muito interessante.

Bem-haja, Fátima!

Beijinhos

Fátima Pereira Stocker disse...

Isabel

Achei graça à expressão, porque a norma nos dicionários da época era não usarem tais palavras que são consideradas "estilo chulo". Mas o Bluteau tem razão: um deus que o é das moscas não passará de grande m...

Nós por aqui dizemos, mesmo, "cornudo".

Beijos

Fátlma Amaral disse...

Sobre as tentações do diabo,que comumente se diz:-foi o diabo que me atentou,ou:-o diabo estava-me atentar,as eternas culpas ao diabo para desculpar as culpas das nossas más decisões,vou deixar uma história muito referida entre as gentes da minha aldeia.

Certo dia uma moçoila contrafeita com os pais,por não apoiarem as inclinações da seus amores,decide abandonar a casa paterna.Ao chegar a uma encruzilhada apareceu-lhe um velhinho que lhe perguntou para onde ia,depois dela lhe ter contado a história,ele aconscelhou-a a voltar pra casa,pois não encontraria por esse mundo fora ninguém que melhor lhe quisesse que os pais:-Vira pra trás,dizia ele.-Não,estou decidida,respondia ela.-Depois não digas que eu não te avisei!...

Passados tempos regressa a casa, pobre desfeita e com uma crinça nos braços,ao chegar á encruzilhada apareceu-lhe o velhinho,que lhe perguntou:-Então,encontras-te quem melhor te quisesse,que os teus pais?

-Ai,tive pouca sorte.
-A sorte estava nas tuas mãos.
-Foi o diabo que me tentou.
-Não,o diabo avisou-te,tu é que tomaste a decisão,o que pensas fazer?
-Pedir perdão a meus pais.
-Vai,eles têm esperado por ti.



Esta resumida história sempre a achei particularmente curiosa,e era muito contada ás raparigas em idade de namorar como se depreende.

Beijos

Anónimo disse...

Seguir vamos seguir
Caminhos da nossa aldeia
Mostrando nossa meiinha fina
E nossos vestidinhos na moda

E nós nossos calções
E nossos bigodes bizarros
etc, etc, etc, que de mais não lembro

Anónimo disse...

Anónimo, trapalhão!

Não é os vestidos da moda!

Seguir vamos seguir
Caminho da nossa aldeia
Mostrando as nossas rendinhas
E a nossa fininha meia.

E nós os nossos calções
Nossos bigodes bizarros

Nossos corpinhos bem-feitos
Perdoando os nossos pecados

Valha-me o Santo Eucarário

Fátima Pereira Stocker disse...

Fátima

Mil perdões pela demora na resposta. Teoricamente estou de férias, mas como o trabalho não acaba, há que cumpri-lo...

Que história magnífica nos deixa aqui! Dela tirei, além da sua, a seguinte moral: por muito que erre nas escolhas que faz, um filho conta sempre com o amor dos pais.

Muito obrigada!

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Ó anónimo, bem-haja pela espevitadela!

Pelos vistos vai de jornada, mas está com saudades da Páscoa. Essa cantiga é um dos jogos de roda que nós, alegremente, dançávamos. E lembro-me muito bem da letra toda. Além daquilo que escreveu da segunda vez, a cantiga prossegue assim:

- As raparigas de agora
São poucas, mas são bonitas!

- A cama onde elas dormem
É no poleiro das pitas!

- Estes rapazes de agora
São poucos, mas são valentes!

- Até podem co'a pia dos porcos
Atravessada nos dentes!


Beijos

Anónimo disse...

Voilà anónimo2, isso é o que ainda viajava pelos túneis da minha memória, levando-se em conta o facto de ter ouvido em apenas duas ou três ocasiões que passei as férias da páscoa na bonita aldeia de Rebordainhos.
Obrigado pela achega e à senhora Fátima pela elucidação total da letra.

Fátima Pereira Stocker disse...

Anónimo 1

Peço desculpa, mas cuidei que se tratava da mesma pessoa (entendi o segundo comentário como correcção ao anterior, feita pelo próprio autor).

Que bom é ver que alguém de fora se lembra das nossas cantilenas! O agradecimento é, por isso, redobrado.

Beijos e pode tratar-me só por Fátima.

Anónimo disse...

Este é só para chegar ao catorze, sem superstições...