Quando todos andávamos a pé e os caminhos da noite nos assustavam devido à memória herdada daqueles tempos em que os tratantes faziam covil nos montes, durante a viagem rezávamos uma oração que tinha fama de infalível: o "Justo Juíz Divinal". Lembro-me do assombro que me causavam as histórias das maravilhas operadas sobre quem rezara a oração e correra perigo real. Eram histórias contadas pela tia Vermelha, pela minha mãe ou pela tia Helena, rematadas sempre com um "é verdade!" E porque não seria?
Quem o reze bem torna-se invisível aos olhos de quem lhe queira fazer mal. Mas a tia Vermelha era mais crente e contava a seguinte história: certo pastor adormecera a meio da oração (ela nomeava a pessoa, a mim é que já me não lembra quem). Esse pastor tinha inimigos que o queriam matar. Estes, sabendo onde tinha o carreto, foram lá ter. A vítima acordou ao ouvir isto:
- "Vamo-nos embora, porque aquilo que vínhamos cá fazer, já alguém o fez por nós!"
Que viram os assassinos? Um corpo cortado ao meio, motivo bastante para concluírem que o homem estava morto. Moral da história: mesmo rezada por metade, a oração surte efeito. Aqui fica ela para os mais esquecidos, tal e qual como a minha mãe ma ditou há já muitos anos:
Quem o reze bem torna-se invisível aos olhos de quem lhe queira fazer mal. Mas a tia Vermelha era mais crente e contava a seguinte história: certo pastor adormecera a meio da oração (ela nomeava a pessoa, a mim é que já me não lembra quem). Esse pastor tinha inimigos que o queriam matar. Estes, sabendo onde tinha o carreto, foram lá ter. A vítima acordou ao ouvir isto:
- "Vamo-nos embora, porque aquilo que vínhamos cá fazer, já alguém o fez por nós!"
Que viram os assassinos? Um corpo cortado ao meio, motivo bastante para concluírem que o homem estava morto. Moral da história: mesmo rezada por metade, a oração surte efeito. Aqui fica ela para os mais esquecidos, tal e qual como a minha mãe ma ditou há já muitos anos:
JUSTO JUÍZ[E] DIVINAL
Justo juíz[e] divinalFilho da Virgem Maria
Em Belém fostes nascido
Em Nazaré crucificado
Entre toda a judiaria.
Peço-Vos, Senhor meu,
pelo Vosso santo dia,
Que nos guardeis o nosso corpo:
Que não seja preso nem morto
Nem tenha justiças em volta.
Pazteco, (1)
Pazteco,
Três vezes pazteco,
Disse Cristo aos Seus discípulos.
Se vierem nossos inimigos
Para nos ofender,
Tenham olhos, não me vejam;
Tenham boca, não me falem;
Tenham braços, não me ofendam;
Tenham pernas, não me alcancem.
Com as armas do Senhor S. Jorge
Serei bem armado;
Com a capa de Abraão
Serei bem capeado;
Com o leite da Virgem Maria
Serei bem borrifado;
Com as chaves de S. Pedro
Seremos bem fechados
Onde os nossos inimigos
Não nos possam ver, nem falar,
Nem sangue do corpo tirar.
Pelos três clérigos revestidos,
Pelos três cálices bentos,
Pelas três hóstias consagradas
Comungastes ao terceiro dia
Dai-nos, Senhor nosso,
Aquela doce companhia
Destes à Virgem Maria
Os portais de Belém
Aquém Jerusalém,
Que eu vá e venha
Na mesma alegria
Foi o filho da Virgem Puríssima
Santa Maria.
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(1) Nem sei como hei-de escrever isto, mas corresponde ao latino "pax te cum": "a paz esteja contigo"
7 comentários:
Nota de edição
Escrevi "juíz[e] porque, de facto, é assim que dizemos: juíze.
Nada alterei daquilo que minha mãe me ditou, por isso se verificam algumas incongruências: às vezes fala na 1.ª pessoa do singular ("não me vejam" / "serei bem armado"...) e outras vezes fala na 1.ª do plural ("que nos guardeis"...). Não sei se a oração é assim mesmo, ou se era o hábito de ser ela a rezar por muita gente. Porque quis ser fiel, assim fica.
Na qualidade de crente, que o sou desde que me conheço, tal como eram os meus ascendentes,li com muito interesse este testemunho e a oração, que desconhecia, mas que vai ficar registada no meu livrinho das orações.
Bem-haja, Fátima!
Beijinho
É a primeira vez que tomo conhecimento da letra do tão célebre"justo juízo,pois sempre ouvi referirem-se a ele como algo muito protector, pelo que era indispensável a alguém que tivesse de emprender viagem arriscada,inclusive ser rezado aos rapazes quando partiam prá guerra.
Também tenho a lembrança de haver poucas pessoas que soubessem rezá-lo.Fico mais rica hoje com este acrescento nas memórias das minhas orações.
Obribada pela partilha.
Beijos
Isabel
Como sabe, também eu sou crente mas, mesmo que não fosse, creio que continuaria a maravilhar-me com estas fórmulas de devoção.
Beijos e boas férias
Fátima
As suas palavras confirmam a fama desta oração. Tantas vezes a rezou minha mãe, pelos filhos que estavam na guerra... A versão dela é a mais completa que conheço. No entanto, se fizer uma pesquisa no google, verá que há outras. Gostei particularmente de uma que está no Toytube e que é de Beja:
http://www.youtube.com/watch?v=r7wNxx-jPg0
Beijos
+E uma linda oração Fátima . Não a conheço por terras da Beira...Quanto ao "paztecum "deve ser uma corruptela da expressão latina ,como muito bem diz . O povo não sabendo latim adaptava de acordo com o som .
Beijo
Quina
Vim reler o seu post, que me deliciou da primeira vez que o li. Sabe que as orações me dão tranquilidade de espírito e quase me transportam para outra dimensão?Fico fascinada.
Bem-haja, Fátima!
Tenha umas boas férias em família nesse seu paraíso.
p.s. Reparei agora na fraga da imagem que encabeça o blogue. Lindíssima! E lá veio Miguel Torga à minha memória. Bem-hajam!
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