sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O TEMPO

Por

AIRES MARTINS

Talvez nunca tenha doído…talvez tenha sido apenas a recordação…talvez tenha sido o cheiro dos carvalhos que impunham o verde do Verão nos montes que nos ladeavam.

Talvez a dor fosse minha e daqueles que ainda respiravam o ar de Rebordainhos. Talvez a dor pertencesse aos Santos que compunham a procissão de Domingo. Talvez o pesar fosse dos olhares mais profundos, engelhados, velhos, e das pessoas que os carregavam como se fosse parte do seu destino.

Talvez a dor existisse porque persistia a teimosia de não aceitar o tempo. O tempo que passou sem questionar ninguém, o tempo que passou por cima dos anos e atropelou as pessoas que faziam parte do analgésico da vida. O tempo que insiste em mudar a aldeia e as pessoas que nela cresceram, o tempo que desafia as memórias mais antigas e aceita as novas pessoas com uma condição prévia: a de aceitarmos o som do sino, o som que nos lembra que as horas passam…

8 comentários:

Fátima Pereira Stocker disse...

Para os que andam afastados de Rebordaínhos há muito tempo:

O Aires é um (belo) jovem que ainda está longe dos trinta, filho mais novo da Esmeralda e do Chico. Escreve com a sensibilidade e a beleza que podemos constatar e devemos enaltecer.

Fátima Pereira Stocker disse...

Aires

Falei, acima, na sensibilidade - enorme! - que patenteias naquilo que escreves. Essa sensibilidade fala de ti e, no caso presente, do receio que sentes ao perceber que as pessoas que compunham o paraíso da tua infância começam a ser consumidas pelo tempo, esse papão devorador dos homens.

Bem-hajas pela partilha e pela capacidade de dizeres em palavras aquilo que muitos sentem e não sabem exprimir.

Um grande beijo

Olímpia disse...

Olá Aires

Que agradável surpresa!...
Que lindo que é, este teu texto. Tanta sensibilidade, só pode ter origem na pessoa bonita que és.
Obrigada por partilhares connosco os teus pensamentos.
Também esse é o meu sentir.
Desejo que continues a presentear-nos com tão bonitos e sentidos quadros.

Bjos

Olímpia

Augusta disse...

Viva Aires:
Mas que excelente ideia tiveste em partilhar connosco o teu sentir!
É com enorme orgulho que reconheço que os teus pais, e afinal de contas, Rebordainhos também, souberam tornar-te na maravilha de pessoa que demonstras ser.
Um grande beijo para eles e um enorme para ti.
Augusta

Isamar disse...

E assim, hora a hora, badalada após badalada, se vai escoando o tempo e chegando a hora da partida. Um bonito texto!

Bem-hajas!

Abraço fraterno

Fátima Amaral disse...

"A teimosia de não aceitar o tempo",para mim é mais o facto de constactar o efeito do tempo.
Porque naquela escada,naquele recanto soalheiro,na sombra daquela varanda ou naquele banquinho de pedra,sentada num esteirão de trapos já não se encontram as pessoas que me respondiam com afável bonomia e me louvavam as boas horas tão ao jeito transmontano como:muitos bons dias nos deia Deus,ou;vanha com Deus,ou;Nossso Senhor nos meta em muita boa noute.
Isto enche-me de tristeza,porque me faz lembrar que vou sentir a falta de muitas mais.....


O tempo que corroi o corpo mas deixa intactos os males da alma.
O tempo que rouba as gentes e lhe tomba as casas, o tempo que faz crescer silvas onde antes cresciam crianças, o tempo que faz ouvir silencio onde antes se ouvia algazarra,o tempo esse consumidor de afectos.

Tenho saudades da minha aldeia no tempo da minha infancia.Quando fecho os olhos volto ao tempo em que por lá fui feliz,em correrias e brincadeiras sem noção do tempo,excepto quando o sino nos fazia vir pra casa ao toque das Avé Marias.

Obrigado ao Aires por partilhar connosco o seu sentir e nos fazer recordar do que ás vezes nem queremos lembrar.

Beijos

Rui disse...

Aires,

Obrigado por presenteares os muitos leitores deste blog com o teu sentido texto. Subscrevo o que já foi dito, conseguiste exprimir nas palavras o sentimento de muitos.

Um abraço

Anónimo disse...

Aires,
A tua escrita poética é sublime!
Amo-te!