domingo, 9 de outubro de 2011

Topónimos

DO NABALHO AO LABANHO


Vem este artigo a propósito do anterior que mostra fotografias tiradas do alto do Nabalho/ Navalho, topónimo a cuja pesquisa dediquei várias horas, entre dicionários portugueses e estudos espanhóis em línguas galega e aragonesa.

José Pedro Machado identifica Navalho (Dic. Onomástico) como derivando de "nava" que define como planura, planície cercada de montanhas (Grande Dic. L. Port.). No entanto, o aragonês Jesús Vázquez Obrador (ver aqui, entrada 'Nabayuelo' pág 190) informa-nos que, quer em castelhano, quer em leonês, "Nava" é lugar inundado o pantanoso.

Começam, aqui, a surgir as minhas dúvidas. Com efeito, boa parte do Nabalho é plano, sendo essa parte muito húmida (que não é difícil imaginar como alagadiça). Mas o resto do lugar faz parte de uma encosta - realidade contrária, por isso, à ideia de planura e de pântano, o que afasta a designação do nosso lugar dos significados anteriores.

Os autores do
"Terras Quentes", de Macedo de Cavaleiros, identificam Navalho com "navalhão", pedaço de terreno húmido entre as searas que se não cultiva para que dê erva, no que são conformes com José P. Machado (GDLP). Confesso que esta associação entre as duas designações não me satisfaz muito.

Se tiveram curiosidade em lê-lo, o autor espanhol que referi acima radica Nabayuelo em Labayo - que teria sofrido a mudança do 'l' inicial em 'n'. Pensemos juntos:

Labaio > Nabaio > Nabalho ?

e (nasalando o 'a')...

Labaio (labãio) > Labanho ?

E não é que o Labanho, ali em Arufe, é tudo aquilo que foi dito acima? Pois não é ela uma terra plana cercada de montes e também alagadiça?

Curiosamente, os já citados autores do "Terras Quentes" apontam como significado de Labanho uma explicação que combina pouco com o nosso caso: chiqueiro.

Não sou linguista e, por isso, é possível que aquilo que escrevi não seja mais do que um exercício pessoal de imaginação. Mas gostaria muito de ouvir a vossa opinião, mais abalizada do que a minha, por melhor conhecedores dos lugares e/ou por maiores conhecedores da língua.

Nesta página - Celtiberia - podem encontrar uma conversa interessante sobre o assunto.
Quem estiver interessado poderá consultar também este trabalho aragonês

19 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Amiga, li com atenção o texto e incluso visitei as duas páginas indicadas em baixo. Acontece porém que sou completamente ignorante no assunto, pelo que me retiro não sem antes lhe deixar um agradecimento pela explicação deixada no Sexta e um abraço de amizade
Boa semana

António disse...

Fátima:

Mais uma acha para a fogueira.
Nem de propósito, vem ao meu encontro este poço sem fundo de cultura que tu és no momento em que ando a escrevinhar um artiguelho a propósito de 'Andam Faunos pelos Bosques' de Aquilino Ribeiro, cuja acção se passa na serra da Nave. Esta serra aparece nos mapas como serra de Leomil, uma vilória lá do sítio (como a nossa é de Nogueira) o que muito arreliava Aquilino que em 1955 escreve 'O Homem da Nave', livro de intenções sobretudo etnográficas. Na introdução deixa dito (p.11): "Parece que 'nave' em euscara significa planalto, e o maciço de que tratamos bem merece o título pela sua configuração".

Não ajuda muito à confusão, mas sempre é mais uma opinião e esta bastante abalizada.

António

Isamar disse...

Por aqui, na serra algarvia, só conheço uma localidade, a Nave do Barão, e, segundo creio, é plana, húmida, fria e fica entre penedias.

Belo post, como sempre nos habituou.

Bem-haja!

Beijinho

Augusta disse...

Bem, mais uma para a confusão. Não visitei as páginas que mencionas. A razão, sabes bem qual é. Mas, num intervalinho, só posso dizer que, do nabalho ao labanho, tens de passar por Arufe.
Desculpa, mas sempre se dá mais um bocadinho de vida.
Beijinho

Anónimo disse...

Virámos os 100000 acessos.

Anónimo disse...

E agora já aqui acederam 100013 pessoas! Bem bom!
Augusta

Elvira Carvalho disse...

Passei. Na ausência de novidades, deixo um abraço e votos de bom fim de semana

Fátima Pereira Stocker disse...

Elvira

No o caso em questão, não passo de simples curiosa que tem o enorme atrevimento de levantar hipóteses em ciência alheia. Estamos, por isso, no mesmo barco.

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho

Chamas cada coisa às minhas dúvidas...

Obrigada pela "acha". É, de facto, mais uma para nos fazer pensar, nomeadamente, na intercepção das línguas peninsulares.

No artigo esqueci-me de referir os nossos antigos. Viterbo, na entrada "navas" diz que são "campos rasos, cercados de bosques" e Moraes diz somente que "nava" é "campo raso".

Sobre "Nave", o Aquilino deve ter razão (que presunção a minha!!!). Em Português, de facto, associamos o termo, somente, a navio e a certos espaços das igrejas. Contudo, não deixa de ser interessante uma passagem de Bluteau: Na opinião de alguns foi este nome imposto pelos primeiros Christãos, que se equivocàrão com estas duas dicçoens Gregas, Naos, genit. Naon , que quer dizer Templo, & Naus, genit. Naos, que significa Nave; & assim chamou o vulgo ao Templo Nave, ou a parte delle (...).

Assim, não será de levantar a hipótese de a Serra ser "da Nave" por ser a "Serra do Templo", algum que por lá tenha existido?

Isto está cada vez mais interessante!

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Isabel

Também o seu comentário acrescenta ao que foi dito! Não quer pensar em hipóteses de explicação para a "Nave do Barão?

Obrigada!
Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Augusta

E do Labanho ao Navalho é por Arufe que me valho!!!

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Anónimo

Nem imagina como me sensibilizou o seu entusiasmo. Os 100000 são um belíssimo número!

Muito obrigada
Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Elvira

Bem-haja!

Bom domingo para si.

Beijos

Fátima Amaral disse...

Também eu estou sem o meu estimado porátil, que decidiu dar uma cambalhota nas tortuosas curvas do Douro quando regressava de férias,por isso fico um pouco mais ausente das minhas visitas habituais ás minhas páginas favoritas.

A propósito de "Nabalho", na minha terra usa-se o termo "nabalhar" para" nadar",ora tem tudo a ver com alagadiço,no meu modesto entender.

Beijos .

Fátima Pereira Stocker disse...

Fátima

Um "modesto entender" muito bem pensado e totalmente a propósito. A expressão era-me desconhecida.

Muito obrigada!

Beijos

Fátima Amaral disse...

Há o termo usado ainda hoje,"anabalhada em suor",ou seja:-alagada em suor,ora lá está,tem a ver com água e são termos que ainda são correntes na minha região nos dias de hoje,mas usados por pessoas com mais de meia idade.

Mais uma acha para esta interessante conversa,pois a lingua é viva e é importante não a deixarmos morrer,venham os acordos que vierem,o que era nosso não pode deixar de o ser.

Beijos.

Anónimo disse...

Que grande trapalhada “navas", Moraes”, "Nave" “Naos”, “genit”,! A minha cabeça ficou como uma sopa de letras todas destrambelhadas dentro dágua . É com o Latim quem não sabe, fica assim! Mas quem sabe sabe. E que não sabe é como quem não vê!

Cumprimentos

Fátima Pereira Stocker disse...

Fátima

Mais um manífico contributo. Muito e muito obrigada!

Concordo inteiramente com o que escreveu: independentemente dos acordos, cabe aos falantes preservarem aquilo que lhes pertence. E olhe que os nossos regionalismos bem merecem manter-se vivos.

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Anónimo

Gostei da ironia! Mas olhe que quem assim brincou com o que escrevi (e transcrevi) é porque compreendeu tudo muito bem e está só a caçoar comigo.

Cumprimentos