terça-feira, 1 de maio de 2012

UMA CANTIGA DE TRABALHO




Celebrar quem trabalha e o modo como o faz (ou fazia) é a minha forma de prestar homenagem a quem, com o seu suor, soube construir o nosso País.



CANTIGA DA SEGADA para cantar à hora do jantar, que é o meio-dia, tal e qual como o meu pai ma ensinou.





.................O LAVRADOR DA ARADA

.................Ó ditosa do lavrador que da sua arada vinha
.................Com o seu jugo às costas, a cavalo na burrinha.

.................Lá no meio do caminho encontrou um pobrezinho:
.................- "Lavrador, levas-me na tua burrinha?"

.................O lavrador se desceu e o pobrezinho subia,
.................levou-o para sua casa, para a melhor sala que havia.

.................Mandou-lhe fazer a ceia do melhor manjar que havia,
.................de galinhas e capões que outra coisa não havia.

.................Sentaram-se os dois à mesa, mas o pobre não comia:
.................os suspiros eram tantos que até a mesa tremia.

.................Mandou-lhe fazer a cama da melhor roupa que havia:
.................por baixo lençóis de seda, por cima lindas cortinas.

.................Lá pelo meio da noite, o pobrezinho gemia;
.................o lavrador se levantou, a ver o que o pobre tinha.

.................Encontrou-o crucificado numa cruz de prata fina
................- "Ai meu Deus, ai quem soubera quem em minha casa tinha!"

.................- "Cala-te aí, lavrador, que em tua casa falta nenhũa havia,
.................No Céu te estarão guardadas três cadeiras de fantasia:

.................Uma para ti, lavrador; outra para a tua família;
.................Outra para a tua criada, que ela também a merecia!"

7 comentários:

Fátima Pereira Stocker disse...

Esta cantiga é uma forma admirável de difundir os ensinamentos de Cristo, que S. Mateus escreve de forma eloquente:

Senhor, quando é que nós te vimos faminto e te demos de comer, ou sequioso, e te demos de beber?
Quando te vimos hóspede e te recolhemos, ou nu, e te vestimos?
Ou quando te vimos enfermo, ou no cárcere, e te fomos ver?
E respondendo o Rei, lhes dirá: Na verdade vos digo, que quantas vezes vós fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes."


S. Mateus, 25, 37-40

Estamos tão precisados de recordar tais princípios!

antonio disse...

Curioso, Fátima! Tens a certeza que era uma cantiga da segada? Lembro-me de alguns versos que pouco diferem dos que escreveste e creio ser do livro de segunda classe. O Lavrador da Arada e o Milagre de Santo António

Vindo o lavrador da arada,
Encontrou um pobrezinho ;
E o pobrezinho lhe disse:
-Leva-me no teu carrinho.

Deu-lhe a mão o lavrador,
E no seu carro o metia;
Levou-o para a sua casa
Prà melhor sala que tinha.

Mandou-lhe fazer a ceia
Do melhor manjar que havia;
Sentou-o na sua mesa,
Mas o pobre não comia.

As lágrimas eram tantas
Que pela mesa corriam;
Os suspiros eram tantos
Que até a mesa tremia.

Mandou-lhe fazer a cama
Da melhor roupa que tinha:
Por cima damasco roxo,
Por baixo cambraia fina.

Lá pela noite adiante
O pobrezinho gemia;
Levantou-se o lavrador
A ver o que o pobre tinha.

Deu-lhe o coração um baque,
Como ele não ficaria!
Achou-o crucificado
Numa cruz de prata fina.

-Meu Jesus, se eu tal soubera,
Que em minha casa Vos tinha,
Mandava fazer preparos
Do melhor que encontraria.

-Cala-te aí, lavrador,
Não fales com fantasia.
No céu te tenho guardada
Cadeira de prata fina,
Tua mulher a teu lado,
Que também o merecia.

Abraço

Elvira Carvalho disse...

Engraçada amiga que comecei a ler e imediatamente me lembrei desta canção que a minha avó nos ensinou como sendo uma oração e que ela terminava assim

Quem esta oração disser, um ano dia a dia
Terá a alma tão limpa como a coroa da Virgem Maria

Um abraço

MPS disse...

Tonho

Creio que publicaste a versão que vinha nos antigos livros da terceira classe. Existem numerosas versões, por todo o País.

Entra aqui (clica no sublinhado) , para teres uma ideia da quantidade de variantes d'O Lavrador da Arada, só em Trás-os-Montes. Anda para cima e para baixo (começa na página 644 e vai até à pág. 893!)

Existem versões musicadas, mas a nossa tem a particularidade de não ser uma modinha, antes, canção de trabalho.

De todas, confesso que prefiro aquela que publiquei, porque foi o meu pai que ma ensinou.

Beijos e obrigada

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho

Desculpa, a MPS sou eu. Não substituo o comentário anterior porque dá muito trabalho incluir um link da maneira como o fiz.

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Elvira

Que coisa mais linda, Elvira! Bem-haja pela partilha!

Beijos

antonio disse...

Tens razão... só que gostava ouvi-la cantada à maneira da segada... e não consegui nada no yutube. Beijos