Mais umas quadras saídas do baú de memórias do meu tio Manuel.
NETOS E AVÓS
Noutros tempos, meu netinho
Eram melhores os meninos:
Não faziam ruindade
Eram bons, os pequeninos.
Iam para a escola contentes,
Vinham da escola a sorrir,
Não gritavam pelas ruas
E não sabiam mentir.
Estavam com eles seguros
Os ninhos pela ramada;
Não usavam ratoeira
Nem fisga endiabrada.
Eram amigos dos pais,
Dos avós... - Ó avozinho,
Eu sou culpado, talvez,
nisso tudo um bocadinho!
Mas lá quanto a ser amigo
Dos meus avós, dos meus pais,
Posso dizer que ninguém
O poderia ser mais!
É um daqueles textinhos que ensinavam a criançada a comportar-se, isso compreendi bem. Mas, a rir-me, perguntei: ó tio, conhece algum garoto que não faça garotices? É claro que concordou comigo, mas quando lhe perguntei se na idade própria ele não ia também aos ninhos, calou-me com esta: tinha pouca sorte! E disse mais, a fazer-me lembrar uma história que o Tonho da tia Lídia contou lá atrás:
"À porta do tio Benjamim havia uma urze. Um passaroco - uma escrevedeira - fez lá o ninho e eu ia lá vê-lo todos os dias! Ficava ali parado, a olhar para os ovos riscadinhos. Por causa de os ovos serem riscados, e os riscos parecerem escrita, é que lhe chamamos escrevedeira."
E cá estou eu sempre a aprender. Quando fui à procura de imagens para ilustrar este artigo, dei de caras com um passareco que vi no Verão e não soube nomear. Agora já sei! Quem quiser mais informações pode entrar nesta página.
5 comentários:
Gostei do poema, mas a história de que os gaiatos de antigamente não faziam marotice, é uma utopia Meus tios José 1918, e António, 1922 eram segundo a minha avó uns autenticos diabinhos, sempre a fazer maldades, algumas bem cruéis como no dia em que ataram papeis ao rabo de um gato e lhe deitaram fogo. A sorte do bichano é que ali perto havia um ribeiro onde ele mergulhou.
Um abraço
Fátima: O tio Manuel é uma fonte inesgotável de boas recordações vindas do passado recente!Não o conhecia muito bem... apesar de ter estado na sua casa em Parada... e os "versos" ou quadras, como lhe quiserem chamar, embora em contrariedade com a realidade dos factos, eram uma lição moralista que todos devíamos aprender...Gosto muito dos animais, particularmente dos passarinhos, razão pela qual nunca sabia ninhos enquanto garoto... e se algum colega me levava a ver algum, fascinavam-me os ovos, e a engenhosa maneira de eles os esconder... A ligação e o video são mais uma das tuas numerosas faculdades para todos nós avançar nos conhecimentos, obrigado.Beijos
Elvira
Tem toda a razão. Criança que não brinque nem faça marotices não será muito bom sinal. Se cada um de nós pensar naquelas que pregou, concluirá que isso foi assim em todos os tempos.
Beijos
Tonho
Ora então, toma lá este poema da autoria de Miguel Torga:
Segredo
Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.
Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar…
(in: Diário VIII)
Beijos
Obrigado. Lindo poema!!! Beijos
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