sexta-feira, 8 de março de 2013

AINDA LEMBRO ABRIL

                               


Eu vi...,
Uma semente lançada,
Atirada ao vento…
Descrever um arco,

Eu vi,
Um pó doirado cair                                          
Na terra mãe.

Eu vi uma semente enterrada
Apodrecer e  desabrochar.                                                                                                        
Eu vi uma espiga erguida,                                    
De espaço a espaço seguida
Por milhares de outras,
Até formarem uma seara.
                                               

Eu vi,
Papoilas vermelhas,
De sangue pintadas,
Beijando o manto dourado.                                                                          

Eu vi…                         
Espigas debulhadas,                                                                                                                  
Em alimento transformadas,
Tornarem-se o sustento
De uma Nação.
O PÃO

Hoje,
Eu vejo,
Campos e campos abandonados…
 Terras férteis violadas,
 Por cardos e solidão.

Eu vejo,
Lágrimas derramadas,
Casas vazias,                                                         
 Almas penadas…

Eu vejo,
O cravo encarnado,
Ainda nas lapelas pendurado,
Tornar-se negro,
Negro como a noite.

Do negro que hoje se vive,
No dia a dia da fome…
Que tal como um cancro cresce,
Mas não desaparece,
Por entre as mãos estendidas,
Que apenas pedem
PÃO.

Eu vejo,
Do peitoral da janela,
Um mar imenso…
                                                                                                                               
Um mar de gente revoltada,                                                                                     
Impotente e enganada,
A levantar as mãos,
Num silêncio de orações.

Junta-te às preces,
Pois tu não tens mais do que mereces,
E por isso grita bem alto comigo

Queremos:

PÃO
LIBERDADE

Queremos que esta terra volte

À

TERRA DA FRATERNIDADE

Gritemos todos.
                                               (Orlando Martins)
                                                                                                       

7 comentários:

Olímpia disse...

Orlando,
como é bonita a maneira como tu brincas com as palavras!...
Que bem tu o sabes fazer!
Também eu partilho da mesma opinião que tu nos revelas no teu poema.
Que Deus nos dê fé, esperança e paciência!

Bem-hajas

bjo

Olímpia

antonio disse...

Orlando: um poema de actualidade... com contornos que te são carateristicos, e envolvencia atraente. Parabéns, abraço

Fátima Pereira Stocker disse...

Orlando

Pois é, "Este parte, aquele parte" (lembras-te da Rosalia de Castro e do Adriano?)...

Se a tua janela te permitiu espreitar o Terreiro do Paço, a minha mão era uma das mãos levantadas, assim como minha era uma das vozes que dizia como a formiga: "mudem de rumo, mudem de rumo..." e, "enquanto há força", que cada um faça aquilo que pode e melhor sabe. Como tu, escrevendo belos poemas de alerta.

Bem-hajas.
Beijos

Augusta disse...

Paz, pão, educação, saúde...
Só há liberdade a sério quando houver
liberdade de mudar e decidir
quanto pertencer ao povo o que o povo produzir...

E tantas, tantas outras palavras e gritos de revolta que noutros tempos souberam resistir;

e lembro-me também, por exemplo de
dos eunucos e dos vampiros do Zeca

e agora temos-te a ti que tão bem soubeste pintar o retrato deste nosso país que, com teimosia e persistência continuamos (e continuaremos) a amar e a querer.

Beijos

Céu disse...


Gritemos todos, Orlando! Tão lindo este teu poema e que bem ilustras uma época tão importante da nossa geração! Que saudades!!!!
Parabéns Orlando. Beijinho

Anónimo disse...

Ola Ceu
Sou eu o Orlando,

Agarraste o sentimento ea vida passada.

manda-me o teu e mail

Céu disse...



Olá Orlando

Já te enviei o mail pelo Face.

Beijinhos
Céu