Atirada ao vento…
Descrever um arco,
Eu vi,
Um pó doirado cair
Na terra mãe.
Eu vi uma semente enterrada
Apodrecer e desabrochar.
Apodrecer e desabrochar.
Eu vi uma espiga erguida,
De espaço a espaço seguida
Por milhares de outras,
Até formarem uma seara.
Papoilas vermelhas,
De sangue pintadas,
Beijando o manto dourado.
Eu vi…
Espigas debulhadas,
Em alimento transformadas,
Tornarem-se o sustento
De uma Nação.
O PÃOHoje,
Eu vejo,
Campos e campos abandonados…
Terras férteis violadas,
Por cardos e solidão.
Eu vejo,
Lágrimas derramadas,
Casas vazias,
Almas penadas…
Eu vejo,
O cravo encarnado,
Ainda nas lapelas pendurado,
Tornar-se negro,Negro como a noite.
Do negro que hoje se vive,
No dia a dia da fome…
Que tal como um cancro cresce,
Mas não desaparece,
Por entre as mãos estendidas,
Que apenas pedemPÃO.
Eu vejo,
Do peitoral da janela,
Um mar imenso…
Impotente e enganada,
A levantar as mãos,
Num silêncio de orações.
Junta-te às preces,
Pois tu não tens mais do que mereces,
E por isso grita bem alto comigo
Queremos:
LIBERDADE
Queremos que esta terra volte
À
TERRA DA FRATERNIDADE
(Orlando Martins)
7 comentários:
Orlando,
como é bonita a maneira como tu brincas com as palavras!...
Que bem tu o sabes fazer!
Também eu partilho da mesma opinião que tu nos revelas no teu poema.
Que Deus nos dê fé, esperança e paciência!
Bem-hajas
bjo
Olímpia
Orlando: um poema de actualidade... com contornos que te são carateristicos, e envolvencia atraente. Parabéns, abraço
Orlando
Pois é, "Este parte, aquele parte" (lembras-te da Rosalia de Castro e do Adriano?)...
Se a tua janela te permitiu espreitar o Terreiro do Paço, a minha mão era uma das mãos levantadas, assim como minha era uma das vozes que dizia como a formiga: "mudem de rumo, mudem de rumo..." e, "enquanto há força", que cada um faça aquilo que pode e melhor sabe. Como tu, escrevendo belos poemas de alerta.
Bem-hajas.
Beijos
Paz, pão, educação, saúde...
Só há liberdade a sério quando houver
liberdade de mudar e decidir
quanto pertencer ao povo o que o povo produzir...
E tantas, tantas outras palavras e gritos de revolta que noutros tempos souberam resistir;
e lembro-me também, por exemplo de
dos eunucos e dos vampiros do Zeca
e agora temos-te a ti que tão bem soubeste pintar o retrato deste nosso país que, com teimosia e persistência continuamos (e continuaremos) a amar e a querer.
Beijos
Gritemos todos, Orlando! Tão lindo este teu poema e que bem ilustras uma época tão importante da nossa geração! Que saudades!!!!
Parabéns Orlando. Beijinho
Ola Ceu
Sou eu o Orlando,
Agarraste o sentimento ea vida passada.
manda-me o teu e mail
Olá Orlando
Já te enviei o mail pelo Face.
Beijinhos
Céu
Enviar um comentário