segunda-feira, 10 de junho de 2013

"ESTA É A DITOSA PÁTRIA MINHA AMADA" (1)

Hoje é dia de Portugal, feriado que, em boa hora, os republicanos se lembraram de instituir (1925) sob a designação de "Festa de Portugal".  Desde a primeira hora que esta "festa" foi associada à celebração de Camões e da sua obra, uma e outro representando-nos exemplarmente na glória e na desdita. 

Quem faz um País? De quem se socorre uma Pátria para existir e permanecer? A Pátria, às vezes, conta com os grandes, mas é com as suas gentes que contará em todas as circunstâncias. Os grandes, cujo nome a História guarda, nada seriam sem o impulso e a vontade pertinaz de quem nada sabe senão mourejar, mas que tem pela liberdade um amor tão grande como pelo pão do seu sustento.

Fernão Lopes (ultimamente tão citado nesta página), o sábio cronista ao serviço da dinastia de Avis, lembra-nos que foi a "arraia miúda"; os "ventres ao sol" quem primeiro se opôs a D. Leonor Teles e à união com Castela nessa longínqua crise de 1383-85 e que foi o povo de Lisboa que obrigou a burguesia a juntar-se à revolta, condição imposta pelo mestre de Avis para aceitar a chefia. E foram muitas as vezes, ao longo da  nossa História,  que o povo voltaria a tomar nas suas mãos a resolução do nosso destino comum!

N'"Os Lusíadas", apesar de a narrativa se centrar na viagem de Vasco da Gama, é mais do que evidente que o verdadeiro herói é o povo português que só enfraquece quando tem chefes que o desmerecem. Camões percebeu isso muito bem.(2)


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A História não se faz só de momentos de epopeia ou de ruptura. A História constrói-se no dia-a-dia, pelo trabalho constante, pela luta por um futuro melhor. Hoje lembrei-me de partilhar isto convosco. Creio que foi por ter passado estes dias em Rebordaínhos, terra de gente cujos nomes não figuram em compêndios, mas a quem a Pátria deve muito. Àqueles que persistem em viver lá e àqueles que trazem a nossa terra no seu coração, um bom dia de Portugal.
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(1) Camões, Os Lusíadas, Canto III, 21
(2) "Que um fraco Rei faz fraca a forte gente" (Os Lusíadas, Canto III, 138): é com estas palavras que Camões se refere a D. Fernando cujo comportamento foi causa imediata da crise de 1383.

4 comentários:

Elvira Carvalho disse...

O pior é que hoje o povo está em grande parte cansado e envelhecido. Os jovens procuram noutras paragens uma vida melhor, e dos restantes grande parte são, foram ou serão políticos. Daí que o futuro não se adivinha cor de rosa.
Um abraço e resto de bom feriado.

antonio carloto disse...

propósito de fragas nada como ler um dos seus filhos, Miguel Torga.
REGRESSO

Regresso às fragas de onde me roubaram.
Ah! Minha serra, minha dura infância!
Como os rijos carvalhos me acenaram,
Mal eu surgi, cansado, na distância!
Cantava cada fonte à sua porta:
O poeta voltou!
Atrás ia ficando a terra morta
Dos versos que o desterro esfarelou.

Depois o céu abriu-se num sorriso,
E eu deitei-me no colo dos penedos
A contar aventuras e segredos
Aos deuses do meu velho paraíso.

Antonio Carloto

Fátima Pereira Stocker disse...

Elvira

O futuro não é cor-de-rosa, mas é futuro e, por isso, merece que o olhemos com esperança.

Desculpe a demora na resposta: não sei porquê, passou-me o seu comentário.

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

António Carloto

Seja bem-vindo. Há muito tempo não o via por aqui!

Obrigada por esse lindíssimo poema de Miguel Torga (do "Diário VI"). Gosto tanto dele, que o sei de cor.

Cumprimentos