segunda-feira, 11 de novembro de 2013

CARTA ABERTA


Rebordainhos, 8 de Novembro de 2013

Caros conterrâneos:

Confesso que sou leitor assíduo do Blog de Rebordainhos, embora não tenha por hábito comentar. Decidi partilhar convosco um pouco do que me vai cá dentro e penso que muitos dos que habitualmente “frequentam” o Blog partilham o mesmo sentimento.

Começo por dar os parabéns ao Blog de Rebordainhos, ao seu fundador e a todos aqueles que com ele colaboram, pois, com as suas palavras, imagens, ditos e contos ajudam a reviver memórias, preservar tradições e promover a cultura de um povo ímpar (pelo menos para mim).

Há já algum tempo que pretendia escrever esta carta, mas por este ou aquele motivo ainda não o tinha feito. Fez no passado mês de Setembro sete anos que parti à procura de emprego, pois como muitos dos migrantes e emigrantes desta nossa terra, as oportunidades escasseavam. Encontrei no Porto o meu lugar ao Sol, onde, confesso, me sinto realizado. Porém, o facto de ter ido para uma cidade distante não me fez perder a afeição que tenho por Rebordainhos – que ninguém pense que quem está perto gosta mais do que quem está longe; julgo, até, que a distância nos faz sentir um maior carinho. Confesso que, no meu caso, a saudade me faz sentir mais nostalgia de cada fez que cá regresso (e costumo ir a Rebordainhos pelo menos uma vez por mês).

Recordo com saudade os tempos de outrora em que brincava com os amigos da aldeia (enumero alguns sem ordem de importância, e perdoem-me se me esquecer de alguém, mas a memória por vezes atraiçoa-nos): Aires Martins, Hélder Valente (mais conhecido por Gala Pitas), Óscar (da Tia Maria Silva), Bruno (do Tio Zé Luís), Rogério Veigas, Luís Caminha, Pedro Carrocedo, Amaro Pereira, Hugo Fernandes, Hélder Fernandes, Carlos Fernandes, Bruno Fernandes, Pedro Pais, Albino Caminha, João Caminha… Bons tempos que passámos juntos, a guardar as vacas e ovelhas, a jogar futebol e a fazer tantas traquinices próprias da idade e, claro, a colaborar nos trabalhos agrícolas, uns mais do que outros, de acordo com as necessidades de cada família. De todos estes que enumerei, julgo que apenas o Rogério e o João Paulo conseguiram resistir ao apelo da cidade e dos grandes centros. São uns heróis por isso (confesso que até lhes tenho inveja pelo feito).

Sinto saudade de tudo, especialmente dos Natais passados em família e entre amigos, do Cantar dos Reis, do Entrudo, do Serrar das Velhas e dos Casamentos, da Páscoa, dos fenos, das malhas, das regas, da apanha das batatas e das castanhas, da matança do porco… Mas tudo isto era um pouco diferente do que se passa atualmente, com muita gente sempre a ajudar, o que transformava o trabalho pesado em momentos de convívio, e os momentos de lazer numa verdadeira paródia. Pena é, que por limitações da Internet, que não seja possível levar a todos os cantos do mundo um pouco dos cheiros e sabores que por cá se sentem.

Talvez por estes motivos e por tantos outros não mencionados nesta pequena carta, tenha decidido abraçar, juntamente com outros corajosos amigos, o projeto da Associação Social, Cultural e Recreativa de Rebordainhos (ASCRR). Acredito que podemos fazer muito para revitalizar e fazer perdurar as tradições que tanto nos orgulham, não permitindo que o passar dos anos faça cair no esquecimento o património riquíssimo herdado dos nossos antepassados.

Em jeito de conclusão apenas queria deixar a seguinte reflexão: vivemos, de facto, tempos conturbados a nível económico e social, que nos fazem ter enorme incerteza em relação ao futuro. No entanto, em relação ao passado não deveremos ter dúvidas e devemos estar orgulhosos das nossas origens e dos nossos antepassados. Neste sentido, faço um apelo a todos os que partilham destas ideias que se juntem a nós na preservação de tão rico património.

Um abraço Amigo


Filipe Freixedelo

10 comentários:

Américo Amadeu Pereira disse...

Filipe Freixedelo, os meus cumprimentos. Dou-lhe os meus parabéns e estou totalmente de
acordo com a sua carta e disposto
a colaborar com os meus fracos
recursos. Para que tenha uma ideia
de quem eu sou talvez baste dizer
que sou o irmão mais novo de quem
fundou a Associação. Houve um grande orgulho e empenho nesta
obra de Ação Social indiscutível
e que se esquecermos uns pequenos
lapsos que foram cometidos, acho
de grande relevo e coragem todos
os que unirem esforços para fazer
andar a Associação. Um abraço.
Américo

Filinto disse...

Ainda bem que aparece de novo a ASR. O meu primo António, um impulsionador, falou comigo antes da sua existência. Dei-lhe todo o apoio e tornei-me sócio, estando no Porto há 42 anos, disse-lhe que aquela escola era um marco para Rebordainhos e uma ASR lá era revitalizá-la.
Embora estando no Porto, comprometo-me a pagar as quotas... era como quando andávamos na primária e pagávamos 2$50 para carvão da braseira e giz.
Já agora, para o Américo: foi na eira da portela, ao lado da escola, que me fizeste um grande galo, com um calço da malhadeira... e cantou.
Parabéns ao Filipe, Augusta (tendes enfermeiros) e os outros que me desculpem pois não sei quem são.
O António, embora seja mais da Régua que de Rebordainhos está de parabéns.
Um abraço para todos
Filinto

Fátima Pereira Stocker disse...

Filipe

Agradeço-te esta carta que foi uma forma gentil de revelar "urbi et orbi" a tentativa, que encabeças, de dar novo fôlego à ASCRR.

É uma obra em benefício de todos e, por isso, quanto mais e mais diversificados forem os contributos, melhor se poderá caminhar.

Desejo-te (desejo-nos)as maiores felicidades.

Beijos

antonio disse...

Filipe:conheces perfeitamente a minha posição e apoio por termos falado longamente sobre o assunto. Espero que me compreendas. Como sócio, como te disse, podes contar com todo o meu apoio na área do que me for possível. Uma equipa jovem e dinâmica só pode dar pernas a um projecto, que, apesar das adversidades prováveis em tempos críticos, tem capacidade e força de vontade para levar a bom termo.Quanto ao Sr. António fundador, o povo só lhe pode ficar grato, embora os homens passem e as obras fiquem. Desejo-vos as maiores felicidades na concretização de um projecto que só pode trazer benefícios para as gentes da terra que todos adoramos. Abraço

Olímpia disse...

Filipe,
adorei ler esta tua carta aberta. Sabes que estarei sempre solidária com iniciativas que beneficiem as nossas gentes.
Mãos à obra!

Bjos

Olímpia

Céu disse...

Ao Filinto e a quem quiser consultar, informo que está publicado todo o expediente relativo aos novos Órgãos Sociais, no blog da Associação.

Céu

Américo Amadeu Pereira disse...

Olá Filinto, com que então o galo
cantou. Como é bom recordar tantas
coisas da infancia. Mas já agora
temos que concluir que o galo foi
só a brincar porque a julgar com
o que é normal os galos só cantam
à meia noite.Um abraço.
Américo

Filinto disse...

Acabei de consultar, Céu. Obrigado.
Américo, este galo cantou à tarde, bem me lembro. Estavam a assentar a malhadeira que tinha vindo de outra eira e como não havia TV nem Net... havia a malhadeira...
Foi nessa eira, numa malha do tio António Trocho que o Hermínio e o Toninho apanharam uma b... com vinho doce e ovos chocos que algum malandro nos arranjou. Eu tive sorte e eles foram parar à urgência do Hospital.
Belos tempos.
Em relação à ASCRR eu não conheço a maioria, mas são conterrâneos.
Filinto

Idanhense sonhadora disse...



Toda a sorte do mundo para a Associação .
Um grande abraço

Anónimo disse...

Muito obrigado pelas palavras de incentivo.
Contamos com com a colaboração de todos na preservação do do nosso património.

Um abraço

Filipe Freixedelo