Rebordainhos, 8 de Novembro de 2013
Caros conterrâneos:
Confesso que sou leitor assíduo
do Blog de Rebordainhos, embora não tenha por hábito comentar. Decidi partilhar
convosco um pouco do que me vai cá dentro e penso que muitos dos que
habitualmente “frequentam” o Blog partilham o mesmo sentimento.
Começo por dar os parabéns ao
Blog de Rebordainhos, ao seu fundador e a todos aqueles que com ele colaboram,
pois, com as suas palavras, imagens, ditos e contos ajudam a reviver memórias,
preservar tradições e promover a cultura de um povo ímpar (pelo menos para
mim).
Há já algum tempo que
pretendia escrever esta carta, mas por este ou aquele motivo ainda não o tinha
feito. Fez no passado mês de Setembro sete anos que parti à procura de emprego,
pois como muitos dos migrantes e emigrantes desta nossa terra, as oportunidades
escasseavam. Encontrei no Porto o meu lugar ao Sol, onde, confesso, me sinto
realizado. Porém, o facto de ter ido para uma cidade distante não me fez perder
a afeição que tenho por Rebordainhos – que ninguém pense que quem
está perto gosta mais do que quem está longe; julgo, até, que a distância nos
faz sentir um maior carinho. Confesso que, no meu caso, a saudade me faz sentir mais
nostalgia de cada fez que cá regresso (e costumo ir a Rebordainhos pelo menos
uma vez por mês).
Recordo com saudade os tempos de
outrora em que brincava com os amigos da aldeia (enumero alguns sem ordem de
importância, e perdoem-me se me esquecer de alguém, mas a memória por vezes
atraiçoa-nos): Aires Martins, Hélder Valente (mais conhecido por Gala Pitas),
Óscar (da Tia Maria Silva), Bruno (do Tio Zé Luís), Rogério Veigas, Luís
Caminha, Pedro Carrocedo, Amaro Pereira, Hugo Fernandes, Hélder Fernandes,
Carlos Fernandes, Bruno Fernandes, Pedro Pais, Albino Caminha, João Caminha… Bons tempos que passámos juntos,
a guardar as vacas e ovelhas, a jogar futebol e a fazer tantas traquinices
próprias da idade e, claro, a colaborar nos trabalhos agrícolas, uns mais do que
outros, de acordo com as necessidades de cada família. De todos estes que enumerei,
julgo que apenas o Rogério e o João Paulo conseguiram resistir ao apelo da
cidade e dos grandes centros. São uns heróis por isso (confesso que até lhes
tenho inveja pelo feito).
Sinto saudade de tudo,
especialmente dos Natais passados em família e entre amigos, do Cantar dos
Reis, do Entrudo, do Serrar das Velhas e dos Casamentos, da Páscoa, dos fenos,
das malhas, das regas, da apanha das batatas e das castanhas, da matança do porco… Mas
tudo isto era um pouco diferente do que se passa atualmente, com muita gente
sempre a ajudar, o que transformava o trabalho pesado em momentos de convívio,
e os momentos de lazer numa verdadeira paródia. Pena é, que por limitações da
Internet, que não seja possível levar a todos os cantos do mundo um pouco dos
cheiros e sabores que por cá se sentem.
Talvez por estes motivos e por
tantos outros não mencionados nesta pequena carta, tenha decidido abraçar,
juntamente com outros corajosos amigos, o projeto da Associação Social,
Cultural e Recreativa de Rebordainhos (ASCRR). Acredito que podemos fazer muito
para revitalizar e fazer perdurar as tradições que tanto nos orgulham, não
permitindo que o passar dos anos faça cair no esquecimento o património
riquíssimo herdado dos nossos antepassados.
Em jeito de conclusão apenas
queria deixar a seguinte reflexão: vivemos, de facto, tempos
conturbados a nível económico e social, que nos fazem ter enorme incerteza em
relação ao futuro. No entanto, em relação ao passado não deveremos ter dúvidas e
devemos estar orgulhosos das nossas origens e dos nossos antepassados. Neste
sentido, faço um apelo a todos os que partilham destas ideias que se juntem a
nós na preservação de tão rico património.
Um abraço Amigo
Filipe Freixedelo
10 comentários:
Filipe Freixedelo, os meus cumprimentos. Dou-lhe os meus parabéns e estou totalmente de
acordo com a sua carta e disposto
a colaborar com os meus fracos
recursos. Para que tenha uma ideia
de quem eu sou talvez baste dizer
que sou o irmão mais novo de quem
fundou a Associação. Houve um grande orgulho e empenho nesta
obra de Ação Social indiscutível
e que se esquecermos uns pequenos
lapsos que foram cometidos, acho
de grande relevo e coragem todos
os que unirem esforços para fazer
andar a Associação. Um abraço.
Américo
Ainda bem que aparece de novo a ASR. O meu primo António, um impulsionador, falou comigo antes da sua existência. Dei-lhe todo o apoio e tornei-me sócio, estando no Porto há 42 anos, disse-lhe que aquela escola era um marco para Rebordainhos e uma ASR lá era revitalizá-la.
Embora estando no Porto, comprometo-me a pagar as quotas... era como quando andávamos na primária e pagávamos 2$50 para carvão da braseira e giz.
Já agora, para o Américo: foi na eira da portela, ao lado da escola, que me fizeste um grande galo, com um calço da malhadeira... e cantou.
Parabéns ao Filipe, Augusta (tendes enfermeiros) e os outros que me desculpem pois não sei quem são.
O António, embora seja mais da Régua que de Rebordainhos está de parabéns.
Um abraço para todos
Filinto
Filipe
Agradeço-te esta carta que foi uma forma gentil de revelar "urbi et orbi" a tentativa, que encabeças, de dar novo fôlego à ASCRR.
É uma obra em benefício de todos e, por isso, quanto mais e mais diversificados forem os contributos, melhor se poderá caminhar.
Desejo-te (desejo-nos)as maiores felicidades.
Beijos
Filipe:conheces perfeitamente a minha posição e apoio por termos falado longamente sobre o assunto. Espero que me compreendas. Como sócio, como te disse, podes contar com todo o meu apoio na área do que me for possível. Uma equipa jovem e dinâmica só pode dar pernas a um projecto, que, apesar das adversidades prováveis em tempos críticos, tem capacidade e força de vontade para levar a bom termo.Quanto ao Sr. António fundador, o povo só lhe pode ficar grato, embora os homens passem e as obras fiquem. Desejo-vos as maiores felicidades na concretização de um projecto que só pode trazer benefícios para as gentes da terra que todos adoramos. Abraço
Filipe,
adorei ler esta tua carta aberta. Sabes que estarei sempre solidária com iniciativas que beneficiem as nossas gentes.
Mãos à obra!
Bjos
Olímpia
Ao Filinto e a quem quiser consultar, informo que está publicado todo o expediente relativo aos novos Órgãos Sociais, no blog da Associação.
Céu
Olá Filinto, com que então o galo
cantou. Como é bom recordar tantas
coisas da infancia. Mas já agora
temos que concluir que o galo foi
só a brincar porque a julgar com
o que é normal os galos só cantam
à meia noite.Um abraço.
Américo
Acabei de consultar, Céu. Obrigado.
Américo, este galo cantou à tarde, bem me lembro. Estavam a assentar a malhadeira que tinha vindo de outra eira e como não havia TV nem Net... havia a malhadeira...
Foi nessa eira, numa malha do tio António Trocho que o Hermínio e o Toninho apanharam uma b... com vinho doce e ovos chocos que algum malandro nos arranjou. Eu tive sorte e eles foram parar à urgência do Hospital.
Belos tempos.
Em relação à ASCRR eu não conheço a maioria, mas são conterrâneos.
Filinto
Toda a sorte do mundo para a Associação .
Um grande abraço
Muito obrigado pelas palavras de incentivo.
Contamos com com a colaboração de todos na preservação do do nosso património.
Um abraço
Filipe Freixedelo
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