É a "versão 2" porque a primeira foi publicada em Outubro do ano passado. O grupo, bem maior este ano, era animado e plural.
O Carlos pediu-me que reforçasse a informação que dei no primeiro artigo: a receita realizada com a exploração da área do "Projecto" reverte inteiramente para o povo. Ou seja, não há lugar a percentagens divididas como foi alvitrado.
O Carlos também me tinha ensinado uma tradição antiga: se meter um seixo na boca, da primeira vez que se vai a um lugar, aprende-se o caminho para poder voltar. Eu assim fiz e o regresso a estes espaços trouxe a possibilidade de aprofundar conversas e de deleitar a vista na contemplação da paisagem avistada de cima. Quantas vezes me atrasei para ficar a mirar uma carvalheira carregadinha de bulharacos, as ervas do caminho ou, simplesmente, para inspirar profundamente aquele arzinho perfumado! Este contacto com aquilo que é nosso enternece-me e dá-me forças para suportar a ausência. Bendita terra!
Muito obrigada à Olímpia que me disponibilizou as fotografias.
15 comentários:
Bonito passeio.
Um abraço
Começo por pedir desculpa ao inssinuar que os lucros da venda florestal eram repartidos pela direção da mesma, e a Junta de Freguesia... baseei-me em factos ocorridos no lugar da minha residencia, onde foram cortados grande quantidade de pinheiros plantados em valdios… porém haverá com certeza outro estatuto que rege a nossa plantação dos montes…
Quanto à visita organizada, lamento não ter ido, para ver se ainda existe a terra de vale de miuça da minha, (mãe lana) era assim que chamavamos à nossa avó Adriana. Onde me desloquei várias vezes, (sem seixo na boca)voltando para casa já o sol posto, lá para os lados da serra dos Pereiros, com uma enchada ao ombro e um saco de farrapos onde guardava preciosamente uma codea de pão duro para a merenda, festim que dividia com a minha irmã, assentados junto da poça de água que vaziava vagarosamente, porque o terreno tinha uma inclinação bastante acentuada, e a rega era à “manta”… Também apanhavamos a alcaria que abundava exclusivamente para esta bandas, muito utilizada para o chá das dores de barriga, e que fazia companhia às migalhas dentro do saco utilizado para o transporte.
Era ainda puto pequeno; descalço esfarrapado olhar fixo naqueles montes que separavam os termos de Rebordainhos e Bragada, que uma dezena de anos depois “palmilhamos” em grupo juntamante com o “calhilha” chico e outros, para ir ver um jogo de futebol na 1ª televisão que vi, e que talvez só existisse esta nas redondezas, a casa de uma familiar deste primeiro, cujo nome me escapa traiçoeiramente, mas, lembro-me que Portugal jogava contra a Bulgária, para o campeonato do mundo, que fomos muito bem recebidos, e que a dona da casa se orgulhava de ter visitas vindas de tão longe a pés para ver o que até esta data só podiamos ouvir no Grunding de teclas do tio João Santo…Voltamos para casa radiantes, já alta noite, guiados pela estrela da felicidade, cantarolando versos para amaciar a raiva de qualquer suposto predador o qual podia eventualmente seguir-nos à distancia, lobos; que o chico experiente dizia haver naqulas redondezas.
Foi entre val-das-vinhas e vale de miuça que experimentei pela 1ª vez os meus magros dons de caçador. Foi o Sr Carlos Ribom para quem andavamos a ganhar a geira, juntamente com o meu companheiro e amigo de segredos Sortes, que me incentivou a pegar na sua espingarda de um cano, cartuxo 12, creio, a qual sempre levava com ele para o campo, no caso de aparecer durante o trajeto um coelho ou uma ave distraidos aos quais atirava e voluntáriamente deixava fugir, porque era um homem de coração e amava com respeito a natureza, todos os seres vivos… - vai para aquela touça rapaz que costumam andar por lá rolas e gaios…
Não me explicou como funcionava a arma, e eu, inocentemente, coloquei-a ao ombro, e lá fui por ali fora radiante como um miudo a quem se entrega um brinquedo sem o modo de utilização. Tinha apenas percorrido uns cem metros, quando se levantou um pulvarinho de aves que não cheguei a conhecer caindo de cu com o susto e disparando a arma involuntáriamente sem direção.
De volta, pergunta-me o Sr. Carlos:
- Não mataste nada?
Cheio de vergonha e não sabendo o que responder, balbuciei apenas; - nada, mas, apanhei um grande susto…
Nesta mesma terra de vale-das-vinhas, era dia de sementeira de batatas. Dois lavradores e quatro mulheres percorriam os sulcos enquanto o tio Carlos ia chegando o pipo aos homens e ums reboçadinhos para as mulheres – para alegrar o ambiente – dizia ele sorrindo… estes ainda são dos que ganhei à sueca ontem, e baixava o tom de voz como receoso que andasse por perto um dos irmãos que não se cansavam de o repreender: - que não devia jogar nem fumar… eram vicios prejudiciais e que os envergonhava… mas o tio Carlos encontrava sempre maneira de dar volta à situação sem comprometer a reputação dos irmãos. Usava um spray para a boca a fim de não cheirara tabaco, e punha um garoto de sentinela à porta da tasca, em troca de meia duzia de rebuçados, para o alertar em caso de chegarem por perto aqueles que embora discordando dos seus metodos de vida, não deixavam de o considerar como o irmão bondoso e simpático com toda a gente.
Eu andava a ajudar o mineiro na exploração da água a uma profundidade de 5 metros. Não gostava de me ver ali preso e logo que a sementeira terminou e os trabalhadores regreçaram a casa, vendo-me só, táo londe de casa, com o mineiro que nem falava, pus-me a mexer tambem, inventando como descupa e juastificação à minha mãe, uma terrivel dor de barriga. Malandrice!
Xau beijos
D. Fátima,
Acho que não se diz buralhacos, mas sim bulharacos.
Beijos
Antes do último acordo ortográfico, dizia-se "bugalhos". Agora, com as praxes académicas, vale tudo!
Magnífica reportagem literária e fotográfica!
Agrada-me muito saber
que ainda há
quem estime verdadeiramente a sua terra natal
e contribua
para conservar a tradição
e proteger as reservas naturais
cada vez mais raras!
Parabéns
obrigado e
cumprimentos de amizade virtual
Elvira
Foi sim, Elvira. Muito obrigada pela visita.
Beijos
Tonho
Não precisas de pedir desculpas; lapsos toda a gente tem. Só escrevi aquilo porque prometi fazê-lo e, também, porque é bom que as pessoas saibam o património que têm.
Obrigada pela partilha das tuas memórias e aventuras. São as lembranças de cada um de nós que, se as reunirmos, permitem reconstituir a vida colectiva da aldeia.
Beijos
Serrana
Obrigada pela correcção. Vou já emendar.
Muito grata
Anónimo
Tem muita razão: praxei as palavras de Rebordaínhos e apliquei-lhes o acordo ortográfico de que sou acérrima defensora e cumpridora inveterada.
Cumprimentos
Petrus Monte Real
Muito obrigada pela gentileza.
Cumprimentos
Fátima
Saborear os afectos, afinal, é tão simples. Não é preciso comprar nada. Basta conseguir estar num lugar que amamos e conseguir sentir o odor perfumado das ervas.
Um beijo
Eduarda
Que contente fiquei com a tua visita. Já tinha saudades.
Beijos
Não vou entrar no âmago do artigo principal, no entanto, reconhecendo que, nos dias que correm, a maioria das pessoas se rendeu à teoria do relativismo, em que é atribuído exatamente o mesmo valor a duas ou mais posições antagónicas, como no caso em que uns defendem que a Terra é redonda e outros afirmam a pés juntos que é chata, dispensando a uns e a outros a apresentação dos referenciais em que balizam as suas opiniões, não posso deixar de apelar ao poder de síntese e de raciocínio de todos os leitores, lançando-lhes um desafio:
A autora do artigo de fundo escreveu bulharacos, a serrana confirmou que é bulharacos, e não buralhacos, depois a autora agradeceu esta “correção”, entretanto intrometeu-se o anónimo que diz que tanto faz: são todos bugalhos! Quem tem razão?!
Anónimo
Apelando ao seu poder de síntese, que propõe?
"Bugalhos" é a expressão corrente, da norma, para o nosso regionalismo "bulharacos". É tudo quanto lhe posso dizer sobre o assunto. Reparei, no entanto, que adoptou com galhardia o Acordo Ortográfico. Que lhe faça bom proveito, pois a mim só me provoca azia.
Cumprimentos
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