terça-feira, 28 de outubro de 2014

PELO TERMO [Versão 2]

É a "versão 2" porque a primeira foi publicada em Outubro do ano passado. O grupo, bem maior este ano, era animado e plural.

O Carlos pediu-me que reforçasse a informação que dei no primeiro artigo: a receita realizada com a exploração da área do "Projecto" reverte inteiramente para o povo. Ou seja, não há lugar a percentagens divididas como foi alvitrado.

O Carlos também me tinha ensinado uma tradição antiga: se meter um seixo na boca, da primeira vez que se vai a um lugar, aprende-se o caminho para poder voltar. Eu assim fiz e o regresso a estes espaços trouxe a possibilidade de aprofundar conversas e de deleitar a vista na contemplação da paisagem avistada de cima. Quantas vezes me atrasei para ficar a mirar uma carvalheira carregadinha de bulharacos, as ervas do caminho ou, simplesmente, para inspirar profundamente aquele arzinho perfumado! Este contacto com aquilo que é nosso enternece-me e dá-me forças para suportar a ausência. Bendita terra!
Muito obrigada à Olímpia que me disponibilizou as fotografias.







15 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Bonito passeio.
Um abraço

antonio disse...

Começo por pedir desculpa ao inssinuar que os lucros da venda florestal eram repartidos pela direção da mesma, e a Junta de Freguesia... baseei-me em factos ocorridos no lugar da minha residencia, onde foram cortados grande quantidade de pinheiros plantados em valdios… porém haverá com certeza outro estatuto que rege a nossa plantação dos montes…
Quanto à visita organizada, lamento não ter ido, para ver se ainda existe a terra de vale de miuça da minha, (mãe lana) era assim que chamavamos à nossa avó Adriana. Onde me desloquei várias vezes, (sem seixo na boca)voltando para casa já o sol posto, lá para os lados da serra dos Pereiros, com uma enchada ao ombro e um saco de farrapos onde guardava preciosamente uma codea de pão duro para a merenda, festim que dividia com a minha irmã, assentados junto da poça de água que vaziava vagarosamente, porque o terreno tinha uma inclinação bastante acentuada, e a rega era à “manta”… Também apanhavamos a alcaria que abundava exclusivamente para esta bandas, muito utilizada para o chá das dores de barriga, e que fazia companhia às migalhas dentro do saco utilizado para o transporte.
Era ainda puto pequeno; descalço esfarrapado olhar fixo naqueles montes que separavam os termos de Rebordainhos e Bragada, que uma dezena de anos depois “palmilhamos” em grupo juntamante com o “calhilha” chico e outros, para ir ver um jogo de futebol na 1ª televisão que vi, e que talvez só existisse esta nas redondezas, a casa de uma familiar deste primeiro, cujo nome me escapa traiçoeiramente, mas, lembro-me que Portugal jogava contra a Bulgária, para o campeonato do mundo, que fomos muito bem recebidos, e que a dona da casa se orgulhava de ter visitas vindas de tão longe a pés para ver o que até esta data só podiamos ouvir no Grunding de teclas do tio João Santo…Voltamos para casa radiantes, já alta noite, guiados pela estrela da felicidade, cantarolando versos para amaciar a raiva de qualquer suposto predador o qual podia eventualmente seguir-nos à distancia, lobos; que o chico experiente dizia haver naqulas redondezas.

antonio disse...

Foi entre val-das-vinhas e vale de miuça que experimentei pela 1ª vez os meus magros dons de caçador. Foi o Sr Carlos Ribom para quem andavamos a ganhar a geira, juntamente com o meu companheiro e amigo de segredos Sortes, que me incentivou a pegar na sua espingarda de um cano, cartuxo 12, creio, a qual sempre levava com ele para o campo, no caso de aparecer durante o trajeto um coelho ou uma ave distraidos aos quais atirava e voluntáriamente deixava fugir, porque era um homem de coração e amava com respeito a natureza, todos os seres vivos… - vai para aquela touça rapaz que costumam andar por lá rolas e gaios…
Não me explicou como funcionava a arma, e eu, inocentemente, coloquei-a ao ombro, e lá fui por ali fora radiante como um miudo a quem se entrega um brinquedo sem o modo de utilização. Tinha apenas percorrido uns cem metros, quando se levantou um pulvarinho de aves que não cheguei a conhecer caindo de cu com o susto e disparando a arma involuntáriamente sem direção.
De volta, pergunta-me o Sr. Carlos:
- Não mataste nada?
Cheio de vergonha e não sabendo o que responder, balbuciei apenas; - nada, mas, apanhei um grande susto…
Nesta mesma terra de vale-das-vinhas, era dia de sementeira de batatas. Dois lavradores e quatro mulheres percorriam os sulcos enquanto o tio Carlos ia chegando o pipo aos homens e ums reboçadinhos para as mulheres – para alegrar o ambiente – dizia ele sorrindo… estes ainda são dos que ganhei à sueca ontem, e baixava o tom de voz como receoso que andasse por perto um dos irmãos que não se cansavam de o repreender: - que não devia jogar nem fumar… eram vicios prejudiciais e que os envergonhava… mas o tio Carlos encontrava sempre maneira de dar volta à situação sem comprometer a reputação dos irmãos. Usava um spray para a boca a fim de não cheirara tabaco, e punha um garoto de sentinela à porta da tasca, em troca de meia duzia de rebuçados, para o alertar em caso de chegarem por perto aqueles que embora discordando dos seus metodos de vida, não deixavam de o considerar como o irmão bondoso e simpático com toda a gente.
Eu andava a ajudar o mineiro na exploração da água a uma profundidade de 5 metros. Não gostava de me ver ali preso e logo que a sementeira terminou e os trabalhadores regreçaram a casa, vendo-me só, táo londe de casa, com o mineiro que nem falava, pus-me a mexer tambem, inventando como descupa e juastificação à minha mãe, uma terrivel dor de barriga. Malandrice!
Xau beijos

Serrana disse...

D. Fátima,

Acho que não se diz buralhacos, mas sim bulharacos.

Beijos

Anónimo disse...

Antes do último acordo ortográfico, dizia-se "bugalhos". Agora, com as praxes académicas, vale tudo!

Petrus Monte Real disse...

Magnífica reportagem literária e fotográfica!

Agrada-me muito saber
que ainda há
quem estime verdadeiramente a sua terra natal
e contribua
para conservar a tradição
e proteger as reservas naturais
cada vez mais raras!

Parabéns
obrigado e
cumprimentos de amizade virtual

Fátima Pereira Stocker disse...

Elvira

Foi sim, Elvira. Muito obrigada pela visita.

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho

Não precisas de pedir desculpas; lapsos toda a gente tem. Só escrevi aquilo porque prometi fazê-lo e, também, porque é bom que as pessoas saibam o património que têm.

Obrigada pela partilha das tuas memórias e aventuras. São as lembranças de cada um de nós que, se as reunirmos, permitem reconstituir a vida colectiva da aldeia.

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Serrana

Obrigada pela correcção. Vou já emendar.

Muito grata

Fátima Pereira Stocker disse...

Anónimo

Tem muita razão: praxei as palavras de Rebordaínhos e apliquei-lhes o acordo ortográfico de que sou acérrima defensora e cumpridora inveterada.

Cumprimentos

Fátima Pereira Stocker disse...

Petrus Monte Real

Muito obrigada pela gentileza.

Cumprimentos

Eduarda disse...

Fátima
Saborear os afectos, afinal, é tão simples. Não é preciso comprar nada. Basta conseguir estar num lugar que amamos e conseguir sentir o odor perfumado das ervas.
Um beijo

Fátima Pereira Stocker disse...

Eduarda

Que contente fiquei com a tua visita. Já tinha saudades.

Beijos

Anónimo disse...

Não vou entrar no âmago do artigo principal, no entanto, reconhecendo que, nos dias que correm, a maioria das pessoas se rendeu à teoria do relativismo, em que é atribuído exatamente o mesmo valor a duas ou mais posições antagónicas, como no caso em que uns defendem que a Terra é redonda e outros afirmam a pés juntos que é chata, dispensando a uns e a outros a apresentação dos referenciais em que balizam as suas opiniões, não posso deixar de apelar ao poder de síntese e de raciocínio de todos os leitores, lançando-lhes um desafio:
A autora do artigo de fundo escreveu bulharacos, a serrana confirmou que é bulharacos, e não buralhacos, depois a autora agradeceu esta “correção”, entretanto intrometeu-se o anónimo que diz que tanto faz: são todos bugalhos! Quem tem razão?!

Fátima Pereira Stocker disse...

Anónimo

Apelando ao seu poder de síntese, que propõe?

"Bugalhos" é a expressão corrente, da norma, para o nosso regionalismo "bulharacos". É tudo quanto lhe posso dizer sobre o assunto. Reparei, no entanto, que adoptou com galhardia o Acordo Ortográfico. Que lhe faça bom proveito, pois a mim só me provoca azia.

Cumprimentos