domingo, 12 de abril de 2015

AS NOSSAS PALAVRAS

Imporém
Substantivo uniforme, ou seja, sem variação entre o feminino e o masculino.

Soa tão terna esta palavra! Acredito que possa ser usada em tom pejorativo, dirigida a adultos, mas sempre que me ecoa na memória, ouço-a dita a crianças.

Imporém, segundo os dicionários (que a indicam como regionalismo transmontano), é pessoa fraca das canelas, ruinzinha, como nós dizemos quando queremos significar que não tem préstimo para o trabalho.

É claro que  uma criança, em termos laborais, não tem serventia nenhuma, não se vale a si própria e, muito menos, aos outros. Contudo, ao contrário daquilo que o real significado da palavra sugere, nunca percebi menosprezo na voz de quem se dirigia a uma criança e a tratava por imporém. Contrariamente, o tom e as circunstâncias em que a palavra era proferida, denotavam certo orgulho. Um pai ou uma mãe que visse o filho, mal saído dos cueiros, a querer fazer alguma coisa para a qual ainda não tinha forças, exclamava no meio de um sorriso: olha o imporém! com isso querendo dizer: este não se deixa assustar pelas dificuldades.

E assim, mais uma vez, se prova que gostamos de brincar com as palavras, trocando-lhes o sentido - testemunho maior de argúcia e inteligência, as grandes qualidades humanas. Quem nos chama matarruanos é, em sentido próprio, um imporém da cabeça.

Uma boa semana para todos.

8 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Muito interessante. Confesso que nunca ouvi semelhante palavra. Mas estamos sempre a aprender.
Um abraço e uma boa semana

Fátima Pereira Stocker disse...

Elvira

É normal que assim seja, por ser palavra muito localizada.

Um abraço também para si

Rui disse...

Obrigado pela partilha D. Fátima.
Nunca ouvi a palavra ser empregue e por isso com esta explicação só fiquei mais 'rico'!
Beijos,
Rui

Fátima Pereira Stocker disse...

Rui

Quando estiveres com a tua avó, hás-de perguntar-lhe.

Beijos

Anónimo disse...

Fátima, sou a Donzília.

Fui colega da tua irmã Maria Augusta, Migú, no Liceu Maria Amália e éramos muito amigas. Costumava ir a vossa casa na Rua Monte Olivete. Adoraria revê-la (los). facebook - Lia Graça Donzília

Fátima Pereira Stocker disse...

Donzília

Mas que surpresa! A última vez que estive em contacto contigo foi a propósito da reforma da nossa comum professora, Ema Tarracha, já lá vão uns bons anos!

Apaguei e reescrevi a tua mensagem para que o teu telefone (que guardei para mim) não ficasse público.

Em breve telefono-te.

Beijos
Fátima

Anónimo disse...

Obrigada, Fátima!! A Migú já me telefonou, o que me deu enorme alegria. Agora é só combinar um encontro, preferencialmente entre todos. Sei que deve ser difícil, mas não é impossível, pois não? Beijinhos muito alegres desta que nunca vos esqueceu.

CC disse...

Rui,
Nunca te disseram "és um imporém..."
eu, de vez em quando era tratada assim! como me lembro, bons tempos.
Sim, a Fátima enriquece-nos sempre com os seus ensinamentos.
Obrigada Fátima.
Beijos
Tilinha