sábado, 21 de junho de 2008

ARES DA SERRA



I - Memórias de um (pobre) Paraíso Perdido

por
António Augusto Fernandes

Aí por meados do século XX, no rescaldo das misérias do pós-guerra, a efervescência do renascer de um mundo novo que vinha fermentando por esse Portugal fora passava ainda ao lado de Rebordainhos. Resquícios esporádicos de civilização avistavam-se lá em baixo, em Rossas: automóveis raros passavam ronceiros pela estrada nacional nº 4 e o comboio da linha do Tua passeava-se, muito de seu vagar, entre o Douro e Bragança.

Ora foi por essa altura que o Estado Novo se lembrou de que, lá em cima, nos picotos da Serra de Nogueira, uns trezentos serranos bravos lutavam pela vida, rodeados de soutos e touças onde, no Inverno, uivavam os lobos mais bastos que pardais nas eiras depois das malhadas e no Verão o sol causticava. E então mandou rasgar, a pá e picareta, aquela estrada madraça que, ainda hoje, os liga ao IP e à estação de caminho de ferro e ao vasto universo. Até essa altura, naquele fim do mundo a mil metros de altitude, a vida decorria sem sobressaltos de maior, atreita apenas às maleitas em que a vida era pródiga e a querelas, rixas e alegrias comunais que os serranos vinham vivendo desde sempre, em moldes idênticos aos dos tempos velhos em que D. Sancho II lhes concedera foral. Até à construção da estrada só dali se saía a pé, de burrico ou no pachorrento carro de bois alcandorados nas poderosas rodas de freixo maciço que alagavam os velhos caminhos com a melopeia cheia de trinados das treitouras bem cingidas aos eixos rijos como aço. Eram desses carros de bois, com a mesma configuração que apresentam nas iluminuras do Livro de Horas do senhor D. Manuel, o primeiro de seu nome, que dependia o ténue tráfego comercial: levar os sacos o centeio e a batata sobejos do sustento das suas gentes e trazer o parco arroz, o pozito açúcar, o cotim das andainas e o aço para apontar as guinchas de arrancar batatas e os enxadões de desfazer monte.

Os três quilómetros até Rossas, percorriam-se, pedibus calcantibus, pelo carreirão de Arufe, tortuoso como sendas do Tibete: as mulheres em chinelos e com os sapatinhos de polimento guardados na saquita de chita para serem calçados ao chegar à estação. E do velho Jarrete contava-se que para poupar as botas novas de couro cru fazia o caminho descalço. Um dia que estourou a unha do dedão do pé com uma topada num calhau, largou aliviado: − Porra! Olha se eu trazia as botas calçadas! Mas os carros de bois, para evitarem o desnível da subida da Galiana, alongavam-se em grande volta pela Quinta do Sepúlveda, pelo Cano, pela Airoá, duplicando assim o percurso. Muitos dos velhos finavam-se sem que alguma vez houvessem pisado o macadame de Bragança ou visto as maravilhas dos lumes eléctricos, nem para consultar um médico, por ali tratando as maleitas em que a vida era sobeja com tisanas de ervas milagreiras e fumigações. O comboio, sim, viam-no lá em baixo, minúsculo como lagarta torcendo-se sobre as duas fitas de ferro e largando baforadas de fumaça pelas ventas. Quando o vento soprava de leste, ouviam-no assobiar como quem se despede − por aqui me vou − até se engolfar no ventre da terra pelo túnel de Arufe, deixando no ar nuvens de algodão sujo e o apelo nostálgico do vasto mundo que se estendia para lá do círculo do horizonte.

A linguagem em que exprimiam alegrias, dores e necessidades do quotidiano rescendia ainda ao galaico-português em que os trovadores do século XIV haviam chorado os seus males de amor. O pão de cada dia estava dependente do sol que fazia germinar as sementes, das chuvas que fecundavam a madre da terra, das trovoadas que em minutos arrasavam o labor de um ano e de Deus que pontificava na sua igrejinha de granito no centro da aldeia que uma pedra no ângulo do campanário data de 1745.

Os insecticidas eram ainda desconhecidos: os piolhos desbastavam-se muito ecologicamente a sabão macaco ou estourando-os entre os polegares e o escaravelho da batateira, recém-aparecido, ao que se dizia, por malandrice americana, afogava-se em latinhas com querosene.

Na roda do ano, a alimentação cingia-se ao pão negro de centeio, à batata e ao conduto fornecido pelo porquito de ceva que se imolava pelo Natal e guardava na salgadeira ou dependurado no fumeiro sob a forma de alheiras e salpicões, porque à escassez dos meios naturais acrescia a penúria herdada da guerra há pouco finda. − Haja saúde e coza o pote − como diz o outro. Mas o negro pote de três pernas pouco mais cozia que batatas com couves e, quando bem calhava, a talhada de toucinho com que se adubava o caldo e, mais raramente, a magra postita de bacalhau, caro como o lume! Ceava-se caldo e batatas e almoçavam-se, de madrugada, as batatas e o caldo sobejos da ceia. Uma sardinha para cada um, quando o sardinheiro adregava de passar, e quanto a chicharros − dos três vinte a cinco tostões − um para cada dois. O pão moía-se no moinho comunal do Catrapeiro e, cada quinze dias, com grandes gabelas de urzes e giestas em que o monte era pródigo, esquentavam-se os fornos que, embora individuais, tinham utilização comunitária, e ali se coziam aqueles pães centeeiros grandes como rodas. Outros mimos como o pão de trigo, o chibinho medrado entre urzes e tojo pelos montes ou o naco de vitela só nas festas assinaladas no calendário. E ninguém tinha o desplante de celebrar aniversários: era lá coisa que se festejasse a data da entrada neste vale de lágrimas! E tirava-se também a barriga de misérias nas celebrações rituais da fartura − as malhas e a matança, com sua licença, do porco. Era este, o cevado, para o qual se inventara o familiar chamadoiro de larego − o amigo do lar − que regalava os palatos serranos com os petiscos mais mimosos: aqueles salpicões muito engelhados e de estética atroz que sazonavam no fumeiro e se saboreavam em rodelas finas cor de vinho velho sobre o carolo de pão de centeio, aquele presunto róseo marmoreado, inventado por algum deus desconhecido para deleite dos seus comparsas no Olimpo e concedido como consolo aos mais afortunados dos mortais. E as alheiras? Pelas manhãs cintilantes de geada, evolava-se pela telha vã das cozinhas e pairava sobre a aldeia uma névoa ténue amarrada pelo frio em que se enlaçavam o cheiro acre da dos cavacos de carvalho ardendo sobre a laje sagrada do lar e o aroma dessas alheiras alourando sobre as brasas e depois acompanhadas pelas vastas malgas de café de cevada. É a excelcitude destes prazeres concedidos também aos pobres que nos faz compreender o culto antiquíssimo ao porco traduzido em dezenas de megálitos com o nome e a forma aproximativa de porcas ou berrões, espalhados por todo o Nordeste. O cochino, durante a ceva era tratado com cuidados de mulher parida, com todos os mimos: farelo, grão, nabos, castanhas, as perfumadas castanhas mamotas que os ganapos pilhavam do caldeirão onde se lhe cozia a vianda, dependurados sobre as grandes fogueiras do Inverno incipiente; e ainda aquele luxo das folhas de negrilho que a juventude mais lépida ia ripar nos ramos cimeiros dos olmos que se erguiam como espeques nas estremas dos lameiros; essas folhas, ásperas como lixa, raspavam os intestinos do bicho e, diziam os antigos, davam aos presuntos curados na aldeia um não-sei-quê que os distinguia de todos os outros.

Mas isso era papa fina afugentada do cotio e reservada para os dias assinalados na folhinha ou dos trabalhos maiores ritualizados na roda do ano, como matanças ou malhas. De resto, o passadio do dia-a-dia, de uma austeridade cenobítica, esbeltava os corpos, enrijava as almas e deixava-lhes o céu garantido.

O termo da freguesia abrange os seus doze quilómetros quadrados, mas quase tudo cerros escalvados de terras delgadas que nunca tentaram frades de ordem rica nem senhores de pendão e caldeira. E porque os ricos e poderosos nunca cobiçaram tais terras, todos eram donos e senhores de leira onde colher as suas cinquenta ou cem pousadas e de belga onde plantar a cesta de batatas e o talo de couve galega para o caldo, o que lhes dava direito a sentirem-se donos e senhores da sua vida e alijar qualquer tipo de canga. Dignos de serem agricultados à maneira do sul só alguns vales, engordados pelo húmus que, ao longo de séculos as enxurradas iam arrastando dos altos e que tivessem água de nascente, para lameiro ou batatal. Mas, como abundava a mão-de-obra, todos os cerros andavam a cultivo. Esgaravatavam-se montes e pedregais onde só o centeio, amigo do serrano, resistente a secas e geadas, vingava para que, havendo pobreza, não houvesse miséria nem se morresse à míngua.

Nos princípios do Outono, os plangentes carros de bois chiavam pelos caminhos de touças e soutos atestados de toros de carvalho e ramos sobejos da poda dos castanheiros, deixando os sequeiros à porta de casa abastecidos para enfrentar a longa e ríspida invernia que se fazia anunciar pelas primeiras chuvadas e pelas névoas que toucavam a Serra dos Pereiros.

Pelos Santos, era já com os dedos engaranhados pelo frio dos nevoeiros outonais e pelos primeiros sincelos que os castanheiros pingavam as castanhas mais temporãs. Em dia de Todos-os-Santos, os garotos acudiam aos soutos acendendo grandes montes de fetos e giestas secas onde tostavam as primeiras castanha da temporada. Com a sua malguita de marmelada e meia dúzia de malápios trazidos nas sacolas de remendos festejavam o primeiro feriado do ano com mais orgulho e sarambeques que sibaritas orientais.

Na poveca serrana não se podia dizer que houvesse pobres e ricos, mas apenas uma pequena diferença entre pobres e menos pobres, cifrada em uns alqueires de centeio e umas sacas de batatas a mais de um lado ou de outro. De resto, todos ganhavam honradamente o pão de cada dia com o suor do próprio rosto e a ajuda do vizinho, não se registando desequilíbrios sociais suficientes a engendrar qualquer hipótese de revolução ou conflito social. Uma que outra casa lá tinha o seu moço de lavoura, quase sempre de fora, que tinha alojamento no palheiro, com duas mantas encafuadas no feno bem cheiroso, aquecido pelo bafo das vacas, dentro de todos os requisitos da ecologia.

O Largo do Prado era o centro social onde se enfrentavam as duas tabernas concorrentes mas amigas. Aos domingos de tarde, ouvida a missa do P. Amílcar, para aí vinham os homens espairecer sob a bênção patriarcal de um freixo e um negrilho monumentais, enquanto as mulheres abancavam à soleira da porta de casa para desenferrujar a língua e pôr em dia os faits-divers comunais. Aliás o freixo do Prado tinha a sua crónica: uns anos por outros, aparecia um figuro da cidade que pagava um cântaro de vinho ao pessoal e, numa solenidade de rito, ia lançar ao tronco da árvore o copo que lhe era devido, em memória do avô que o tinha plantado há que vidas. A rapaziada mais espigadota, ainda com ânimo para tais folestrias depois de uma semana agarrados ao cabo do enxadão ou à rabiça do arado, jogavam ao fito, à relha ou ao calhau, muito esfuziantes e provocadores na meça de forças, sobretudo quando passavam as moçoilas, muito louçãs nas suas chitas domingueiras, fingindo-se ariscas no faz-de-conta de algum recado urgente e lançando o rabicho do olho para os conversados. Os mais entradotes a quem os anos já tornavam mais pesada a rabadilha e amainavam as quenturas do sangue, abancavam para uma partida muito vozeada de sueca ou o chincalhão a quartilho fraternalmente partilhado por todo o adjunto. E, por altura das ave-marias, quando as mulheres embiocadas corriam pressurosas para o Terço, uma animação muito pingueira estrondeava já por todo o Prado.

Ao centro do largo gorgolejava uma bica que trazia a água encanada lá de cima, do Lombo-de-à-Igreja, sítio do lugarejo primitivo, de reminiscências castrejas, um alto pedreguento batido de todos os ventos, donde se avistavam muitas léguas em redor, com as vantagens defensivas que a localização representava nos grossos tempos dos avoengos que de lá devem ter avistado as legiões de César calcorreando a via romana vinda de Salmantica em demanda de Aquis Flaviis, galgando a serra lá em cima, na garganta do Pórto. Lombo-de-à-Igreja lhe chama o povo, que os topógrafos, ou por uma ignorância a crassa ou por dureza de ouvido, cadastraram como Agreja.

Além dessa bica e de uma outra mais aristocrática, gizada pelo Sr. professor Francisco Ribom junto ao pelourinho, matava-se a sede, pela concha da mão ou pela aba do chapéu, da Fonte Grande, da Fonte do Espinheiro e da Fonte da Vila, três fontes de chafurdo, de água granítica abençoada, com a naturalidade bíblica e a falta de higiene de quem desconhecia a existência de termos obnóxios como poluição, micróbio ou bactéria.

Nesses tempos, à aldeia assistia ainda o designativo de vila usado pelos dos Pereiros, com origem em velhos tempos, não menos pobres, mas de maior prestígio, conferido por foral de D. Sancho II e atestado pelo velho pelourinho que perdera já a cabeça e os anos corcovavam sobre a fraga esconsa que lhe servia de soco, à ilharga da Igreja e pela memória da Casa da Cadeia, então adscrita a habitação do professor. De resto, a aldeiazita de cem fogos, vista de longe, tinha um ar airoso: ruas assaz direitas e largas para o comum das aldeias nortenhas, espraiada pela encosta voltada a sul e de costas para Espanha. A poente alteava-se a cumeada da Fraga do Berrão, onde em tempos presidira a divindade tutelar de uma porca como a de Murça, furtada, diziam os antigos, pelos de Parada; em frente, barravam-lhe o horizonte os longes azulados da serra de Bornes, e a leste a linha esfumada do planalto que vai de Mogadouro a Miranda. Olhada do Alto da Cabeça que lhe ficava defronte, o povoado tinha o seu quê de prazenteiro, porquanto a tristura das paredes negras de granito e dos telhados pardos do musgo se esvaía, amaciada na grande profusão de verdes: negrilhos, calineiros, macieiras e nogueiras e os remendos mimosos dos hortejos entremeados com as casas. Aqui e além, a mancha de cal dos muros da Casa da Aula, da Igreja e do Cemitério e mais três ou quatro casas, desabrochava como flores de esteva sobre fundo de urzes e codeços.

Caldeados pela aspereza do clima e rijeza do solo, os serranos não eram particularmente expansivos, mas também não eram, de seu natural, azedos. Parcos de palavras, até na brevidade com que narravam os casos da vida ao serão ou suciando pelas tabernas, lá se tornavam mais palavrosos com o copito bebido à sobreposse. Então diziam o que deviam e o que não deviam e rebentavam altercações breves como tempestades de Agosto que os mais cordatos e menos bebidos amainavam sem sobressalto de maior. Calçavam-se tamancos talhados em amieiro pelo tio Grilo soqueiro e vestia-se cotim chita; a roupa interior, quando calhava de se usar, era de tomentos que produziam sobre a pele o efeito penitencial da lixa sobre a madeira. Mas era gente de alma lavada como geralmente são os habitantes das serras, afeitos a ares limpos, horizontes largos e habituados a apenas terem Deus acima de si. E, como que demarcando essa única dependência, já os antigos tinham erigido cruzes de pau tosco sobre soco em cantaria bruta nas quatro entradas da povoação: a caminho da Tempa, pelo leste, na saída da Airoá, a sul, à Corredoura do lado poente, e a norte quando se vai para a Tergaça, porque, sem perderem muito tempo com beatérios, conservavam o sentido do Transcendente e aprestavam-se de boamente a desencardir a alma e receber Nosso Senhor pela Páscoa da Ressurreição. Nas tardes de trovoada brava, quando os alustros fuzilavam sem relego e terrincos medonhos pareciam querer afundir o mundo, quem mais por perto andasse da Igreja apressava-se a ir desinquietar do seu nicho de santo um S. Silvério, papa e mártir muito maneirinho, de dois palmos. Debaixo de um vasto sombreiro de doze varas, o santo lá se deixava transportar para o adro como infante ao colo de alguma comadre, muito compostinho com sua mitra e báculo. Voltado para a serra a poente, ficava-se em contemplação, futurando das misérias que a violência dos elementos poderia acarretar a agros e criação se não lhes acudisse. E o santo acudia-lhes sempre, porque aquela gente era boa quando podia e a vida a não aporrinhava em demasia. De tal protecção acrisolada tinham a certeza os serranos quando, no dia seguinte, pelos soalheiros se fazia relato muito bisbilhotado e condoído das desgraças sucedidas nos povos em volta: um castanheiro de séculos rachado de alto a baixo, trinta ovelhas fulminadas, um batatal arrastado pela enxurrada… E sabe-se lá mais o quê! Este São Silvério que pontificava à esquerda do aro do presbitério era um santo muito da devoção da pequenada, fosse pelo seu tamanhinho, fosse por fazer com muita virtude as vezes de Santa Bárbara nas trovoadas. Trocadamente pintado de roxo por algum pinta-monos menos familiarizado com a hagiografia, mais tarde foi reconduzido aos seus trajos brancos de papa e parece que ainda assim se mantém.

De resto cantavam loas ao Deus Menino e arrematavam as roscas do charolo pelo Natal, casavam-se as moças e serravam-se as velhas por um embude, de outeiro para outeiro, pelo Carnaval, celebrava-se a fartura efémera das colheitas no final do Verão e faziam-se filhos por toda a roda do ano, como mandava madre natura. E era assim que a Casa da Aula andava repleta de criancedo: umas vinte rapariguinhas muito conversadeiras para a D. Maria e outros tantos rapazotes brutos e vivaços para o mano, o Sr. Francisquinho Ribom, quando nos tempos sáfaros de hoje não chegam à meia dúzia por atacado e a escola já fechou por falta de quorum.

Os tempos não eram melhores que os de hoje, nem mesmo pintados no retábulo da saudade, bem pelo contrário. Eram outros e assim foram vividos. E, dentro de pouco, vê-los-emos sumidos na voragem dos dias, não figurando sequer como ligeira nota de rodapé nos manuais etnográficos.

Por isso, para que não caiam de todo no olvido, deles aqui se lavra nota, porque a grande história é a que nos moldou a infância a que pertencemos, mesmo quando há muito perdida, se dela nos sobram para sempre uns fiapos de nostalgia guardados nas arcas da memória.

34 comentários:

Augusta disse...

Belíssima prosa. Uma aguarela bem representativa do viver em Rebordaínhos, ou em qualquer outra aldeia deste nordeste, antes das vias de comunicação.
Eternamente agradecida, Tonho por nos avivares a memória desses tempos que, sendo difíceis, foram simultaneamente muito felizes.
Beijinhos
Augusta (do tio João Fouce)

Porca da Vila disse...

Uma delícia, que forçosamente acabou por me levar a outra aldeia, a dos meus avós, onde quase tudo era igual [não havia taberna] e quase tudo se passava de igual maneira. Parabéns.

Xi Grande

Anónimo disse...

Meu caro Tonho

Parece que foi há uma vida, mas não há ainda quarenta anos e os únicos dois automóveis de Rebordaínhos eram o do Sr. Professor e o do Sr. Herculano. ainda me lembro bem das gargalhadas do povo e do enfado do Sr. Carlos de cada vez que o Sr.Professor, à entrada de cada curva da tal "estrada madraça", o obrigava a sair para ver se vinha lá outro carro.

Já to disse, mas importa repeti-lo aqui: cada palavra tua é uma fatia da alma da nossa gente. Uma e outra são de consistência rara.

Um abraço

Anónimo disse...

Tonho

Já agora, deixa que faça o papel de mestre de cerimónias: a "Porca da Vila" é uma transmontana que, embora sendo rapariga de, mais ou menos, a idade da Augusta, é da velha cepa. Criou uma reserva a que chamou "Braganzónia" que é um blog da mais fina ironia e apurado sentido de humor. Está nos links aqui da barra lateral.

Olímpia disse...

Bem-vindo António, a este blog que é de todos nós.
Bem hajas por este extraordinário texto que nos fez viajar uns anos atrás , através da quietude das fragas, do aloirar das searas, dos telhados cobertos das geadas ou de neve, da cabaça de vinho metida na água a refrescar...
Lembrei paisagens, tradições e...a nossa boa gente com grandes dificuldades mas também com muita alegria, persistência,honestidade e, invulnerabilidade serrana à torreira, ao gelo e, à fadiga.
A partir de agora, a tua colaboração é imprescindível pois ,tens muito para nos ensinares e contares.
Olímpia ( do tio Fouce )

Anónimo disse...

Depois de reler "As Memórias..." fiquei com uma certa nostalgia de por aqui terem terminado.

Excelente texto, de tão Ínsigne amigo, que me fez relembrar, de uma forma tão cinematográfica, esta envolvente comum que também moldou a minha infância.
Este forte realismo descritivo moldado por uma sensibilidade sem paralelo e adjectivado por ícones de transparência transmontana, transportaram-me para uma realidade a três dimensões que, espero, não venham a ser únicas, pelo menos pelo valor que têm.

Obrigado Tonho continua.

Sempre amigo e discípulo...

" Ab imo corde "

Orlando Martins

J. Stocker disse...

Não posso acrecentar mais nada ao que aqui foi dito.

Parabéns António!

Anónimo disse...

Amigos Rebordaínhenses
Muito bela prosa do A.Fernandes, estou a recordar os três "chicharros" vinte e cinco tostões, eu aquí tão longe, mas tão perto do mar e a miséria era igual, por vezes pergunto-me "será que aprendemos alguma coisa?"
Por quí melhorámos um pouco mais, mas:-Fomos invadidos!
Por aí penso que tambem melhoraram alguma coisa ,mas:-foram abandonados!
O que é que estará mal num País tão pequeno. e tão bonito como o nosso?
Abraços para todos

Anónimo disse...

Caro Manangão

Magnífica, a sua síntese!

eu tenho a certeza que sabe a resposta à sua pergunta: o mal de Portugal foi sempre a sua classe dirigente.

Um abraço

Anónimo disse...

Tonho

O José Manangão é uma figura muito interessante da blogosfera e, acima de tudo, um poeta popular genuíno. Alia a poesia à sua militância política num blog muito activo que se chama "Poesia no Popular", também incluído na barra lateral.

António disse...

o Escriba
agradece tão amáveis comentários que não podem ser ditados senão pela comunhão de laços que nos unem ao terrunho natal que nos modelou até ao cerne dos ossos. Um abraço para todos

Isamar disse...

Li de uma só vez, da primeira à última palavra. Retornei à minha aldeia, ao amanho das terras, à sementeira do trigo, do milho, da batata... ao porquito criado no pocilgo alimentado a bolotas e farelos, à matança do mesmo, por alturas do Natal, em tempos de lua cheia, aos campos lavrados com o arado puxado pelo macho, ao suor do avô a ajudar nos sulcos com que o mesmo rasgava a terra ...
Que belo texto, António! Que escrita escorreita!
Obrigada, João,por me dar a conhecer este seu amigo.

Um abraço fraterno.

Anónimo disse...

Cara Sophimar

É bem verdade: os da serra sabem reconhecer-se. A latitude, no nosso caso, pouco mais muda que a temperatura.

Um abraço

Anónimo disse...

Tonho

Já que assumi o papel, que o desempenhe a preceito.

A Sophiamar - Isabel de seu nome cristão - é uma algarvia gentilíssima a quem encontrei no mundo blogosférico. O seu blog "sophiamar" (inscrito na barra lateral)é um cantinho de ternura e histórias que sabe contar muito bem.

EC disse...

Simplesmente lindo!

Milita (jovem prima)

Anónimo disse...

olá

Anónimo disse...

António
Depois de ler o texto da tua autoria, disse para mim: Do António não se esperava outra coisa!
Uma leitura que, quando termina dizemos: Que pena não continuar!
Foi com alguma nostalgia que ela me transportou para os anos vividos, em que se ia à Fonte Grande colher aquela água cristalina ,que saia a jorros, fresca no verão e a fumegar no inverno.
Bjs
Céu

J. Stocker disse...

Para todos

Coloquei aqui duas fotos no texto, gostaria que o António e os outros se pronunciassem sobre o efeito das mesmas, se não gostarem ou tiverem outras sugestões, façam o favor.

Abraço para todos

Anónimo disse...

Caro António

O amigo, com a sua bela prosa, até fez com que a Regina viesse aqui comentar, e tem graça o seu escrever.
Bem vinda Regina.

Anónimo disse...

António,
A Estrada nº. 4 a que te referes no texto não será a EN 15?
Se bem que, no seu contexto não é o mais importante, apenas uma curiosidade.
Bjs
Reina

António disse...

Caros Stocker, Regina e Anónimo:
Acho óptimas as fotos (tenho tb um conjunto de diapositivos com 20 ou 30 anos, que vou digitaliar e enviar aos poucos)
Obrigado pelos vossos comentários tão gratificantes. Vejo que a Milita não é de longos discursos, mas diz muito em poucas palavras. Quanto ao nº da estrada (disso percebe a Regina) já me tinha alertado o meu irmão... erro de algum mapa velho...

Augusta disse...

António e Regina:
Ora vamos lá ver: a estrada nacional nº 15 é a que liga Bragança a Macedo (vulgo "estrada velha"). A que liga Rebordaínhos a Rossas é uma estrada municipal. A nº 4, imagino que seja o IP4. Será?
A Regina que actualize as informações. Ninguém como ela tem hipóteses de saber a numeração correcta.
Beijos

Anónimo disse...

Amiga,
Vejamos o que o texto diz:
"Resquícios esporádicos de civilização avistavam-se lá em baixo, em Rossas: Automóveis raros passavam ronceiros pela estrada nacional nº. 4 e o comboio.......)
O Itinerário Principal nº 4, na época era impensável.
Essa estrada é a Nacional nº. 15.
Qualquer dúvida, diz
Bjs
Céu

Anónimo disse...

Lá em estradas não me meto. Para mim ou é a velha ou é a nova!

Anónimo disse...

Olá Fátima,
Sabes que além de ser interessante e nos aproximar um pouco mais, recuando aos aos velhos tempos, embora tu sejas mais nova do que eu, acaba por ser divertido. Essa coisa das estradas....... ser nova ou ser velha tanto faz, o importante é que elas sirvam a população, não achas? E depois fiz essa observação por mera curiosidade. Sabes que na era de monarquia todas elas se chamavam estradas reais.
Gostei do teu comentário.
Bjs
Céu

Anónimo disse...

Céu

Eu não quis menosprezar a importância do rigor de se tratar de uma ou de outra estrada. Quis, sim, dizer que não me meto no assunto por nada saber dele (não sei o número das estradas), só isso.

Dou muita importância às estradas que, nas comunicações, são rios construídos pelos Homens. Têm papel fundamental na vida das pessoas. Mas não me peçam que lhes saiba os números.

Obrigada e beijos

Augusta disse...

Claro que é logico que, naquele tempo o IP4 era impensável... nem eu me referi a ela como existindo já na época. Apenas o mencionei por causa do número referido. Apesar de estar ausente destas terras por vários anos, foi só muito depois do meu regresso que esse IP foi construído e, com muitos anos de atraso, concluído. Como poderia eu esquecer?
Tal como o António refere na sua belíssima prosa, também eu em época de férias, percorri a distância entre Rebordaínhos e Rossas, a calcantes. E viagei, tal como tu, no combóio a carvão ou na automotora. Como poderia confundir?
E a importância que atribuo às estradas, tal como qualquer um de nós, é muita. Tal como tu entendo que as vias de comunicação, são vitais para o desenvolvimento dos povos.
Beijos
Augusta

Anónimo disse...

Fátima e Augusta
Bem longe de mim de fazer essa leitura, peço desculpa se não me exprimi como seria minha intenção.
Foi até mais uma brincadeira.
bjs
Céu

Augusta disse...

E para brincar, estamos nós, não é assim? Sempre prontas, e "...vivó fado".
Beijos

Anónimo disse...

Céu

A mim não tens que pedir desculpa, pelo contrário, agradeço o ponto de ordem. De resto, subscrevo a vontade de brincar porque, afinal, é da nossa infância que o Tonho nos fala.

Beijos.

Anónimo disse...

simplesmente fanstastico.!

J. Stocker disse...

Em nome do autor deste texto (que penso estar de férias) agradeço ao anónimo as duas simples e belas palavras que deixou.

Obrigado em nome do autor

Anónimo disse...

como é´bom visitar o lugar que nos viu nascer e crescer.

Anónimo disse...

Anónimo

Ficamos muito felizes com isso, já que esse era um dos nossos maiores objectivos.

Nós gostaríamos de saber quem nos visita de modo a podermos responder de forma personalizada, já que este é, essencialmente, um espaço de pessoas que se conhecem, estimam e respeitam. Será que podemos pedir-lhe que, quando aqui vier, assine o comentário que fizer? Ficar-lhe-íamos muito gratos.

Um abraço e volte sempre