por
ANTÓNIO BRAZ PEREIRA
ANTÓNIO BRAZ PEREIRA
O acto da matança será barbaresco para os defensores dos animais, mas era útil e necessário para a sobrevivência nos meios rurais, sobretudo quando o talho mais próximo se localizava na capital de distrito, a uma distância de vinte e seis quilómetros, quatro deles percorridos a pé, por carreiros de terra batida, até chegar à estação de caminhos de ferro onde o Sr. Azevedo, por duas coroas, passava o bilhete que dava acesso ao comboio a carvão, (mais tarde automotora) que demorava mais ou menos uma hora para chegar à cidade. Tempo e dinheiro gastos para comprar carnes que, ao fim e ao cabo, também eram abatidas por alguém, não justificavam que se não fizesse a matança.
Enquanto puto, a matança do porco, em Rebordainhos, era, para mim, um dia de alegria, abundância e harmonia. Em se aproximando o Natal, o porco entrava na engorda e passava a ser mais mimado com castanhas descascadas, batatas e centeio granulado, cozidos num grande caldeiro posto sobre a lareira que também era aproveitada para encostar os pés molhados e, até, as roupas vestidas que fumegavam como quando se cozia pão! Nesta altura, porque o frio apertava mais e as geadas deixavam vestígios nas poças e tanques de água, o tempo adequava-se à conservação e, por isso, marcava-se uma data, quase sempre aos domingos, para o dia fatal do animal.
A diferença que existia entre as famílias remediadas e as pobres, como noutros aspectos, também se notava neste. Primeiro, pelo número de convidados e, depois, pelo número de animais: de nenhum a três.
Certo Janeiro fomos convidados para casa do tio João Santo que matava os seus três porcos. Saí de casa bem cedo e nem esperei pelos demais familiares – eles sabiam o caminho e, além disso, mal tinha cerrado olho durante a noite, ansioso pelo amanhecer. O dia estava frio e gelado e, de noite, tinha caído uma camadita de neve. Passei diante das poças da Fonte Grande e do Espinheiro cujo gelo, apesar de convidar à patinagem, me deixou indiferente, tal era a apressa de chegar. Mais adiante, perto do pelourinho, dirigi-me para a rua que dava acesso à casa do Bagueixe, com a intenção de passar pelo atalho que desembocava, direitinho, nas escadas do lado da adega, as quais me levariam directamente ao destino. Ia avançando lentamente, escorregando aqui e ali, quando, da Casa do tio Leque, que mantinha a porta fechada, ouvi chamar:
Ó Bagueixe, tens muitas mulheres?...
Como não obtivesse resposta do vizinho cujas paredes eram meeiras (e a comunicação se fazia através dos buracos que nelas havia ou, então, pelas janelas que eram próxima uma da outra), repetiu a mesma pergunta, levantando ainda mais a voz. Do outro lado, em resposta, ouviu-se uma blasfémia acompanhada da seguinte frase:
– Tenho as mulheres no…
– Pois olha, diz o Leque, cornos não te faltam!
– Raios partam o homem que é maluco como os carros!... Não se pode estar sossegado na cama!
Levantando-se em ceroulas e camisola de flanela, o Bagueixe foi direitinho à janela e, mal a abriu, viu à sua esquerda o outro, debruçado sobre a sua, a rir às gargalhadas enquanto apontava para as telhas das quais caíam, longos e cristalinos, muitos candeolos de gelo. Ficaram os dois tagarelando por mais algum tempo, enquanto eu, receoso de perder o mata-bicho da matança, corria para a grande cozinha do tio João Santo.
A mesa enorme estava repleta de presunto, bacalhau passado por ovos, figos e nozes secos. Também não faltava a garrafa de aguardente, queijo e café migado. Alguns convidados esperavam, já, sentados no escano. Junto da grande lareira estavam dois potes grandes, um destinado à canja onde uma galinha velha cozia durante horas; o outro, para o arroz do almoço. Todas estas tarefas caseiras eram entregues às mulheres que iam buscar o fígado fresco para refogá-lo. Outras três ou quatro, porque era necessária água corredia, iam lavar as tripas lá para as Ribas, Fonte da Vila, ou mesmo à Ribeira. Voltavam geladas dos pés à cabeça.
Os homens, após o mata-bicho, preparavam-se para enfrentar os bichos. Alguns eram grandes e fortes que nem toiros, razão pela qual eram os mais jovens com “cabedal” e os trintões pujantes os primeiros a ter que arregaçar as mangas. Não podendo deixar transparecer o receio que lhes ia na alma, um após outro, lentamente, com alguma apreensão, iam-se aproximando da porta, por detrás da qual, o manso animal se transformava em fera brava, como que adivinhando as intenções daquela quantidade de homens. O Matador, com grande experiência, visto serem raros a possuírem coragem e saber, entrava na loje logo depois do primeiro homem, que levava uma corda na qual fizera um laço. Logo atrás vinham os mais corajosos: dois deles deitavam as mãos às orelhas do animal, para este abrir a boca onde era introduzido o laço da corda que lhe prendia o focinho, fixando-a nos caninos do animal. Conduziam-no assim para a rua e, a partir daqui, numerosas, engraçadas e verdadeiras passagens podiam ser contadas. Nesse dia da matança do tio João Santo apenas aconteceu que, enquanto alguns agarravam o terceiro porco (pesava duzentos quilos, limpo), parte dos homens preparavam-se para a chamusca do segundo que… pega a correr pela canada da casa do Ferreira e só parou no lameiro do tio António Trocho, perante a estupefacção dos que presenciaram a cena, mais o gozo do tio Leque que gritava às gargalhadas:
– Agarrai-o! Agarrai-o!... Ó Bagueixe, o Santo só chama gente fraca para a matança! …
– Chegavam-lhe os dois que ficaram; a esse fazíamos-lhe nós o fado, respondeu o outro.
Enquanto se fazia a preparação dos cevados sobre bancos largos e resistentes, os garotos costumavam cortar o rabo, prepará-lo e assá-lo nas brasas com duas areias de sal.
A quem não passava despercebida qualquer matança, era ao Hermínio Russo nem ao seu colega, o Carlos Chiote. Começavam por rondar o local quando os animais estavam em fim de preparação e, aproveitando qualquer distracção dos matanceiros, puxavam da peliqueira afiada e cortavam um pedaço magro, junto da espádua e iam, depressa, assá-lo. Nesse dia, era em casa do Bagueixe, de mecha com eles.
De porta fechada, os três comparsas preparavam-se para petiscar, assando o isco nas brasas, com sal e um pedaço de malagueta. Mas o tio Leque, malandro como as raposas, tinha farejado já qualquer coisa, para além do fumo que lhe entrava pelas narinas. O Bagueixe saíra com uma garrafa de quartilho e meio, vazia, nas mãos e voltara momentos depois com ela cheia…
– Cheira-me a comeninzana! … Mas introduzir-se em casa do Bagueixe não era tarefa fácil, sobretudo porque não devia estar só. O Leque precisava de arranjar uma artimanha!… De repente, lembrou-se das bombas que sempre guardava em casa: – E vai ser uma dos foguetes que bota muito fumo e eles são obrigados a abrir. Meu dito meu feito: um grande estrondo, fumo a sair pelo buraco do gato… e os três perto da porta aberta, tossindo, enquanto rogavam pragas ao engenhoso e desenrascado homem com quem foram obrigados a partilhar o quinhão!
– Tende lá paciência, mas nem o pão posso trazer… não o tenho!
Só se almoçava depois de terminados todos os preparativos. Os cevados eram pendurados de cabeça para baixo, para que as geadas lhes dessem a forma adequada. Os muitos convivas sentavam-se à mesa repleta de chouriças, alheiras, presunto e pratos variados. O convívio prolongava-se por todo o dia e os mais idosos só voltavam para casa à noite e, por entre o pipo do vinho e o estômago bem recheado, vinham ao de cima discussões que, por vezes, aqueciam. Nesse dia não pude esperar pelo fim porque eu, o meu primo Tarcísio e o Pintassilgo fomos com as vacas para a Galiana, onde me pus a jogar à queda com o Pintassilgo. Resultou num braço deslocado e no pedido ao Sr. padre João que me levasse a Paçó onde havia um compodor de ossos.
Enquanto puto, a matança do porco, em Rebordainhos, era, para mim, um dia de alegria, abundância e harmonia. Em se aproximando o Natal, o porco entrava na engorda e passava a ser mais mimado com castanhas descascadas, batatas e centeio granulado, cozidos num grande caldeiro posto sobre a lareira que também era aproveitada para encostar os pés molhados e, até, as roupas vestidas que fumegavam como quando se cozia pão! Nesta altura, porque o frio apertava mais e as geadas deixavam vestígios nas poças e tanques de água, o tempo adequava-se à conservação e, por isso, marcava-se uma data, quase sempre aos domingos, para o dia fatal do animal.
A diferença que existia entre as famílias remediadas e as pobres, como noutros aspectos, também se notava neste. Primeiro, pelo número de convidados e, depois, pelo número de animais: de nenhum a três.
Certo Janeiro fomos convidados para casa do tio João Santo que matava os seus três porcos. Saí de casa bem cedo e nem esperei pelos demais familiares – eles sabiam o caminho e, além disso, mal tinha cerrado olho durante a noite, ansioso pelo amanhecer. O dia estava frio e gelado e, de noite, tinha caído uma camadita de neve. Passei diante das poças da Fonte Grande e do Espinheiro cujo gelo, apesar de convidar à patinagem, me deixou indiferente, tal era a apressa de chegar. Mais adiante, perto do pelourinho, dirigi-me para a rua que dava acesso à casa do Bagueixe, com a intenção de passar pelo atalho que desembocava, direitinho, nas escadas do lado da adega, as quais me levariam directamente ao destino. Ia avançando lentamente, escorregando aqui e ali, quando, da Casa do tio Leque, que mantinha a porta fechada, ouvi chamar:
Ó Bagueixe, tens muitas mulheres?...
Como não obtivesse resposta do vizinho cujas paredes eram meeiras (e a comunicação se fazia através dos buracos que nelas havia ou, então, pelas janelas que eram próxima uma da outra), repetiu a mesma pergunta, levantando ainda mais a voz. Do outro lado, em resposta, ouviu-se uma blasfémia acompanhada da seguinte frase:
– Tenho as mulheres no…
– Pois olha, diz o Leque, cornos não te faltam!
– Raios partam o homem que é maluco como os carros!... Não se pode estar sossegado na cama!
Levantando-se em ceroulas e camisola de flanela, o Bagueixe foi direitinho à janela e, mal a abriu, viu à sua esquerda o outro, debruçado sobre a sua, a rir às gargalhadas enquanto apontava para as telhas das quais caíam, longos e cristalinos, muitos candeolos de gelo. Ficaram os dois tagarelando por mais algum tempo, enquanto eu, receoso de perder o mata-bicho da matança, corria para a grande cozinha do tio João Santo.
A mesa enorme estava repleta de presunto, bacalhau passado por ovos, figos e nozes secos. Também não faltava a garrafa de aguardente, queijo e café migado. Alguns convidados esperavam, já, sentados no escano. Junto da grande lareira estavam dois potes grandes, um destinado à canja onde uma galinha velha cozia durante horas; o outro, para o arroz do almoço. Todas estas tarefas caseiras eram entregues às mulheres que iam buscar o fígado fresco para refogá-lo. Outras três ou quatro, porque era necessária água corredia, iam lavar as tripas lá para as Ribas, Fonte da Vila, ou mesmo à Ribeira. Voltavam geladas dos pés à cabeça.
Os homens, após o mata-bicho, preparavam-se para enfrentar os bichos. Alguns eram grandes e fortes que nem toiros, razão pela qual eram os mais jovens com “cabedal” e os trintões pujantes os primeiros a ter que arregaçar as mangas. Não podendo deixar transparecer o receio que lhes ia na alma, um após outro, lentamente, com alguma apreensão, iam-se aproximando da porta, por detrás da qual, o manso animal se transformava em fera brava, como que adivinhando as intenções daquela quantidade de homens. O Matador, com grande experiência, visto serem raros a possuírem coragem e saber, entrava na loje logo depois do primeiro homem, que levava uma corda na qual fizera um laço. Logo atrás vinham os mais corajosos: dois deles deitavam as mãos às orelhas do animal, para este abrir a boca onde era introduzido o laço da corda que lhe prendia o focinho, fixando-a nos caninos do animal. Conduziam-no assim para a rua e, a partir daqui, numerosas, engraçadas e verdadeiras passagens podiam ser contadas. Nesse dia da matança do tio João Santo apenas aconteceu que, enquanto alguns agarravam o terceiro porco (pesava duzentos quilos, limpo), parte dos homens preparavam-se para a chamusca do segundo que… pega a correr pela canada da casa do Ferreira e só parou no lameiro do tio António Trocho, perante a estupefacção dos que presenciaram a cena, mais o gozo do tio Leque que gritava às gargalhadas:
– Agarrai-o! Agarrai-o!... Ó Bagueixe, o Santo só chama gente fraca para a matança! …
– Chegavam-lhe os dois que ficaram; a esse fazíamos-lhe nós o fado, respondeu o outro.
Enquanto se fazia a preparação dos cevados sobre bancos largos e resistentes, os garotos costumavam cortar o rabo, prepará-lo e assá-lo nas brasas com duas areias de sal.
A quem não passava despercebida qualquer matança, era ao Hermínio Russo nem ao seu colega, o Carlos Chiote. Começavam por rondar o local quando os animais estavam em fim de preparação e, aproveitando qualquer distracção dos matanceiros, puxavam da peliqueira afiada e cortavam um pedaço magro, junto da espádua e iam, depressa, assá-lo. Nesse dia, era em casa do Bagueixe, de mecha com eles.
De porta fechada, os três comparsas preparavam-se para petiscar, assando o isco nas brasas, com sal e um pedaço de malagueta. Mas o tio Leque, malandro como as raposas, tinha farejado já qualquer coisa, para além do fumo que lhe entrava pelas narinas. O Bagueixe saíra com uma garrafa de quartilho e meio, vazia, nas mãos e voltara momentos depois com ela cheia…
– Cheira-me a comeninzana! … Mas introduzir-se em casa do Bagueixe não era tarefa fácil, sobretudo porque não devia estar só. O Leque precisava de arranjar uma artimanha!… De repente, lembrou-se das bombas que sempre guardava em casa: – E vai ser uma dos foguetes que bota muito fumo e eles são obrigados a abrir. Meu dito meu feito: um grande estrondo, fumo a sair pelo buraco do gato… e os três perto da porta aberta, tossindo, enquanto rogavam pragas ao engenhoso e desenrascado homem com quem foram obrigados a partilhar o quinhão!
– Tende lá paciência, mas nem o pão posso trazer… não o tenho!
Só se almoçava depois de terminados todos os preparativos. Os cevados eram pendurados de cabeça para baixo, para que as geadas lhes dessem a forma adequada. Os muitos convivas sentavam-se à mesa repleta de chouriças, alheiras, presunto e pratos variados. O convívio prolongava-se por todo o dia e os mais idosos só voltavam para casa à noite e, por entre o pipo do vinho e o estômago bem recheado, vinham ao de cima discussões que, por vezes, aqueciam. Nesse dia não pude esperar pelo fim porque eu, o meu primo Tarcísio e o Pintassilgo fomos com as vacas para a Galiana, onde me pus a jogar à queda com o Pintassilgo. Resultou num braço deslocado e no pedido ao Sr. padre João que me levasse a Paçó onde havia um compodor de ossos.
(A esta hora, o fumeiro já começa a corar em casa do Tonho)
No texto da mensagem em que me mandou as fotografias, o Tonho escreveu mais:
É sempre agradável recordar o dia das alheiras que era um festim, o encher das chouriças (e os bocadinhos a assar e cair na cinza), dos palaiotos (impressionantes aquelas tripas do intestino grosso cheias de massa, e até a bexiga redondinha, fazendo inveja aos jogadores de futebol). Também havia os butelos, que os novos mal conhecem, enchidos com carne e ossos e, quando abertos, depois de cozidos e tostados na lareira, acompanhados com grelos, eram uma delícia por alturas do Entrudo.
13 comentários:
Nota de edição
Este texto do Tonho [Braz] foi ilustrado com fotografias de três matanças: a do tio António Piloto; a do pai dele, o tio Adriano Guerra, e a do meu primo Rafael. Esta última é minha e as duas primeiras são do acervo da tia Maria. Não sei dizer quando foram tiradas (a da lavagem das tripas em que se vê a minha mãe e a Ester terá cerca de 22 anos)
A fotografia do canelho que dá acesso às escadas do tio João Santo e as duas últimas são do autor do texto. A primeira resultou da busca que ele fez por Rebordaínhos, a propósito da discussão sobre o lugar e que casa seria a da fotografia dos últimos Rostos. As duas últimas foram gentilmente enviadas agora e atestam como o Tonho é fiel à tradição, mantendo a matança do porco e a produção do fumeiro. Que lhe aproveite, bem o merece!
Tonho
Fizeste-me rir a bom rir, já to disse!
Eu não tenho paciência nenhuma com as pessoas sensíveis que não matam galinhas mas comem galinhas, como diz a nossa Sophia de Mello Breyner. A matança do porco era um acto essencial à sobrevivência - única carne de que dispúnhamos - e, ao mesmo tempo, um momento de confraternização, como tão bem referes no teu texto. No nosso calendário onde a única coisa que sobrava eram os dias de pouco, a matança era dia de festa e não há que ter vergonha de o dizer, dia de abundância em que se assegurava a sobrevivência do ano. O porco morre não porque dê prazer a alguém matá-lo, mas porque garantia a vida da família. E se assim é, há que celebrar, reunindo todos.
Obrigada pela partilha das tuas memórias.
Beijos
ANTÓNIO BRÁS, os temas abordados têm sido todos muito sensíveis e que dão eco em qualquer pessoa que
passou por eles e os viveu de perto
ou até mesmo para quem tem ainda
consequências dos mesmos. Sinto uma
certa mágua de não haver um maior
número de comentários.
Nesta quadra e quanto à matança do
porco, para mim é particularmente
muito agradável lembrar todos os
pormenores. Era sempre um dia de
reunião da família e onde existia
sempre um convite a quem passava
para participar no acontecimento.
Chama-se a isto viver num espírito
de comunidade.
Bravo, ANTÓNIO, espero que continue
a presentear-nos com narrações a
que já estamos habituados e que cada vez mais nos prendem à nossa
terra. Um grande abraço.
Américo
Tonho:
Graças a Deus que temos dois Tonhos que nos avivam a memória com coisas que nos aqueceram a alma. O outro Tonho tem andado arrediço com o seu "Ares da Serra"! Vai aparecendo nos comentários... mas já tenho saudades de mais! (Espero que leia o recado).
Mas olha, hoje és tu que estás na berlinda, e tal como a Fátima, também eu me fartei de rir.
A matança era sem dúvida um dia de convívio familiar. Só não achava piada nenhuma a um pequeno pormenor. Depois do almoço, os homens jogavam as cartas à braseira, e as mulheres, toca a lavar a loiça com aqueles potes enormes!
Lembro-me particularmente bem das matanças da tia Aninhas, e das aventuras do meu pai, do Rafael e do Octávio. No final, já noite dentro, os caminhos ficavam mais tortos: tanto os que iam para as Cabanos, como o do espinheiro até ao bairro das pedras!...
Para além da beleza do texto, deixa-me dizer-te que as chouriças e alheiras dependuradas no teu fumeiro, também têm um excelente aspecto!
Continua Tonho. Nós cá estamos para ler e...saborear!
Beijinhos
"Nós cá estamos para ler e...saborear!"
Permitam-me que me associe à leitura e quase ao prazer da degustação da carne do porco morto nesses dias que foram de festa. Por aqui ainda se vai continuando a tradição e em breve estarei numa matança de dois porquitos pretos. Eu farei parte do grupo daquelas que vão para a cozinha.
Bem-hajam, amigos!
Um abraço
Bravo, António!
Que belas e adequadas memórias!
Nem imaginas a água que me fizeste crescer na boca:aquelas couvinhas da matança, o sangue cozido,o fígado, a sopa de erbanços...
A matança do porco, era mesmo muito especial para a garotada.
Em Dezembro e Janeiro,meses mais frios e mais propícios para a conservação das carnes, eram os meses da matança, da festa e da abundância.
A este animal, tudo se aproveitava: a gordura das tripas para os rijões e para o unto, as tripas para as chouriças e para os salpicões, o sangue para os chouriços pretos, os pulmões para as chouriças de boche, etc.
Obrigada, por nos avivares as memórias.
Bjos
Olímpia
Fátima: mais uma vez os meus agradecimentos pela tua habitual colaburação; não só pelas fotos, como pelos retoques. Apesar de ser um texto simples e tradicional,que os comentadores vão completando com as próprias experiencias,porque recordações trazem outras, identicas ou diferentes,englobando a finalidade de conviver com todas as classes sociais, porque segundo a minha intuição, (diferenças só na terra) Boas Festas Para toda a Família. BJS
Américo:bem-haja pelo comentário,tão verdadeiro e alusivo a factos memoráveis que satisfaziam a gente humilde, dedicada,e trabalhadeira. A mentalidade da maior parte das pessoas,(das quais excluo qualquer julgamento) é hoje muito diferente, pelo que, também eu lamento a frágil colaboração, de visitantes, abstencionistas livres da escolha feita.Não somos muitos, mas bons, penso eu, e os seus comentários são a prova eminente. Feliz Natal e próspero ano novo para si e todos familiares, Com um grande abraço no di 18. António B. Pereira
Augusta: obrigado pelo gentil comrntário, mais as areias de sal que faltavam ao texto para ter o gosto desses dias longíncuos e tão próximos nos nossos corações.
Quem se assenta à mesa e que não come é porque não gosta, graças a Deus os pratos são variados. Se tal não basta ,resta o rabo do porco. Boas festas para toda a Família. Beijos, António B. Pereira
Isamar:mil agredecimentos pela sua visita, e comentário. Espero que o trabalho na cozinha seja dividido com muitas e simpáticas Senhoras, sempre se torna mais fácil. Quanto aos dois porquinhos pretos, parte integrante da cadeia alimentar,dos quais surgirá um fumeiro gostoso o qual fará inveja aos russos e seu caviar.
Grato e feliz por conhecê-la, apesar de espreitar no Blog. Com os meus cumprimentos: António B. Pereira
Olímpia: obrigado pelos teus semore tão simpáticos comentários.É realmente verdade o que acrescentas; os tempos eram outros e as pessoas também,embora muitos deles tenham hoje as nossas idades.O Blog. é para mim uma bufarrada de ar puro, tal como cada vez que atraveso Rebordainhos de Vale da Frunha Até à chave. Diziam os antigos que ficavam com coiro de pita, quando algo de importante surgia nas vidas deles, para mim é igual.BJS e Boas Festas, António B. Pereira
Tonho,
Fizeste-me chorar a rir. A matança era um dos convívios que eu mais gostava e eu tenho muitas saudades deles. Era a matança da minha Madrinha (Tia Helena) e quem matou o porco foi o Tio Alípio acompanhado do filho Tito. Ao almoço comíamos o tal fígado estufado acompanhado com batatas cozidas. O Tito quando via o Mário da Tia Celeste distraído tirava-lhe o fígado do prato e metia-lhe as batatas.
Ó Tia Helena! A mim some-me a chicha do prato e crescem-me as batatas! Bote cá mais uns bucados.
Das atraganices do tio Leque também me lembro bem. Uma vez esta em casa da Tia Gloria e ele na dele peidava-se e gritava. Ó Glória! Incheste o lume de castanhas e não as mordiscaste primeiro! A tia Glória não lhe respondia. Dali a bocado voltava ele à carga, dava outro valente peido e gritava. Caralho, Glória! Ou já te dixe para mordiscares as castanhas antes de as meteres ao lume!
É bom recordar estes momentos. Obrigada António.
Um beijo.
Amélia
Amélia: o teu comentário, é uma revista à portuguesa serrana, que me deliciou tão esplendecente de franqueza,espontâniedade e alegria. Desta feita fui eu quem se riu a bom rir, ao ponto de me rebolar no chão. São estes pequenos pormenores de convivência, nos grandes encontros de fraternização, sem iguismos, nem "chis-chis" que nos avivam a maravilhsa infância revivida tal esse dia.Mil agredecimentos pelo teu comentário, mas sobretudo, pelos estoiros do tio Leque,e a cumplicidade entre o Tito (malandro!!!)e a do Márinho simulando bém a vítima. Agora peço-te para escreveres um texto bem à tua maneira, com tantas e engraçadas anedotas passadas lá cima. Desejo-vos um feliz Natal e próspero Ano novo para toda a família. António B: Pereira
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