sábado, 12 de novembro de 2011

ATRÁS DOS TEMPOS VÊM TEMPOS

A imagem é daqui
Todos nos lembramos de, em garotos, obedecermos às nossas mães e irmos à cata de urtigas que, depois de cozidas, eram misturadas com farelos e dadas de alimento aos perus recém-nascidos. As mãos hábeis das nossas mães abriam-lhes o bicos e enfiavam-lhes a mistura goela abaixo. Era um regalo vê-los medrar! Já nesse tempo não vislumbrávamos outras aplicações para aquela erva singela. Talvez regressemos ao tempo em que se lhe dava mais uso:


Utilidade da urtiga - A maior parte dos agricultores julgam a urtiga uma planta nociva, e principalmente os jardimeiros lhe fazem tão despiedada guerra, que ella se ha refugiado nos sitios ermos, nos terrenos estereis, ou á sombra das sebes. Todavia o seu talo fibroso pode dar fios proprios para tecidos, propriedade que os Hollandezes primeiro que ninguem aproveitaram com grande vantagem. Das folhas da urtiga, quando é tenra, faz-se um guisado saboroso; os troquilhas misturam a semente desta herva nas rações dos cavallos, para lhes dar vivacidade, e fazer o pello luzidio; das suas raizes, fervidas com uma pequena porção de pedra hume, e de sal commum, se extrahe uma linda côr ammarella; de sorte que todas as partes desta planta podem ser empregadas na agricultura ou nas artes. Como forragem é para os animaes cornigeros um alimento sadio, e certo, por ser temporã e facil de cultivar, pois vegeta no mais arido terreno, e longe de exigir amanhos, soffre todas as intemperies, e reproduz-se sem carecer d'allheios socorros. Pode ser ceifada cinco ou seis vezes no verão, e quando na primavera se não encontra pasto algum para os gados, já a despresada urtiga está crescendo com toda a força. Corta-se em quanto é tenra, quando se quer dar verde, e conserva-se mais tempo na terra quando se pretende empregar como forragem, pois que do contrario o gado não comeria com gosto os seus tálos mais grossos.
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Peço desculpa, mas não consigo dizer de onde tirei o texto que reproduzo: leio tanta coisa e tão dispersa que, às vezes, me esqueço de anotar a fonte. A certeza é que se trata de um texto de jornal ou revista do século XIX.

8 comentários:

Idanhense sonhadora disse...

Olá Fátima , na minha terra até se diz que quem se pica com as urtigas não tem ,mais tarde , problemas reumatismais . Será verdade ? Recordações dessas picadas na infância , todos nós , que somos da província , devemos tê-las ...Também há quem faça salada e sopa com elas mas , sinceramente , não sei como se faz para deixarem de picar. Gostei da sua recordação que me trouxe as minhas
Beijo
Quina

Elvira Carvalho disse...

Nos anos 60 o meu tio Zé estava com uma crise ciática que não se podia mexer. Mandou a mulher apanhar um molho de urtigas e auto flagelou-se com elas. Coincidencia ou não a crise passou.
Mais de 20 anos depois voltou a fazer o mesmo por causa de outra crise.
Um abraço e bom Domingo

Isamar disse...

Não sabia de todas as utilidades das urtigas mas sei que me piquei vezes sem conta com elas por achá-las tão bonitas, verdinhas e tenrinhas. Em menina usava-as para fazer "jantarinhos" para as bonecas mas sei que era dada ao gado e que medrava bem todo aquele que delas se alimentava. Quanto às fricções, feitas com a maceração das mesmas, também ouvi falar mas confesso que desconhecia a que se destinavam.

Bem-hajas, Fátima!

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Quina

Deus queira que sim: com tanta picadela sempre hei-de escapar do reumatismo!

As folhas das urtigas, depois de temperadas para a salada, devem ficar macias, como se estivessem cozidas. Eu até imagino como podem ser lavadas, pegando-lhes pelo caule que não pica. O diabo deve ser cortá-las para o tacho! Um dia ainda hei-de experimentar!

Beijos e obrigada

Fátima Pereira Stocker disse...

Elvira

Valente homem, o seu tio! Ainda bem que aqui deixou a receita, pode ser que sirva a alguém!

Beijos e obrigada

Fátima Pereira Stocker disse...

Isabel

Tudo quanto se escreveu nesta caixa de comentários confirma as palavras do autor que citei.

Que comichão fazem as urtigadelas! O que vale é que a natureza põe o antídoto ao lado do veneno e nós, depois de uma urtigadela, apanhávamos mantastros e esfregávamos-nos com eles, para aliviar.

Beijos e obrigada

Isamar disse...

Só agora reparei na bela fotografia que encima o blogue. Novembro é mês de castanhas e ei-las protegidas pelos ouriços que as cobrem.
Como a Mãe-Natureza cuida com zelo dos seus filhos!


Bem-haja, Fátima!

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Isabel

Obrigada por ter reparado.

Beijos