quarta-feira, 3 de outubro de 2012

PALAVRAS QUE HOJE ME ACUDIRAM...

... e que foram consideradas pouco adequadas para quem se não quisesse confundir com a ralé no modo de se expressar. Integram a lista elaborada por Francisco José Freire, nas suas Reflexões sobre a Lingua Portugueza, obra publicada em 1842 mas escrita, de certeza, lá pelos meados do séc. XVIII).


Alcouce casa de alcouce: assim chamavam sem escrupulo os nossos antigos oradores ás casas, que dão commodos para  commercios lascivos. Hoje em discurso grave foge-se de pronunciar este termo por ser popular.

Coçar estranha-se em alguns oradores, quando ao tratar do santo Job dizem que coçava [em logar de raspava] com uma telha as suas leprosas chagas.

Cocegas: é termo humilde para estilo grave. Quando seja preciso usar delle, querem os criticos que se diga antes alatinadamente titilação que provoca o riso, ou outra semelhante circomlução, que não abata o estilo.

Enfadonho tem baixeza por ser termo muito popular. Enfadoso se acha em alguns Classicos (...)

Enforcado: não tem nobreza este termo, e deve-se usar de alguma frase; v.g. morrer suspenso em um patibulo, ou de um laço &c.

Engulhos só se admitte na linguagem medica. Use-se de alguma frase decorosa, v.g. inuteis esforços da natureza para provocar o vomito &c.

Engulir em sentido metaforico, significa soffrer (...). 

________  // ________ 
Como se comprova, a linguagem "politicamente correcta" não é invenção dos nossos tempos...

Guardo para mim as frases que tal leitura me sugeriu, mas deixo a porta aberta para quem, aproveitando a deixa,  nos queira proporcionar alguma titilação que provoque o riso. Sintam-se libertos dos inúteis esforços da natureza...

8 comentários:

antonio disse...

Fátima: o teu " post" é interessante, e, do meu ponto de vista, se me permites o julgamento, sem querer ofender ninguém, merece consideráveis comentários por parte dos visitantes, tal como aqueles que falam e muito bem, diversificadamente de assuntos pessoais, particulares, memórias ou ficções... infelizmente, tal como nos programas "reality-show" as pessoas passam, dão uma espreitadela e só comentam o que está relacionado com os interesses pessoais... move-os apenas uma motivação específica!
Peço desculpa, e volto a repetir, não quis ofender ninguém em particular e respeito a decisão de cada um.
Ponho um GOSTO na tradução de palavras que nos são familiares, mas, nem sempre sabemos tudo sobre elas... beijos saudosos

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho

És um amor! Não creio que tenhas ofendido ninguém, vieste, sim, sentir as minhas dores.

Mas isto dos blogues é mesmo assim: as pessoas gostam ou não gostam; umas dizem-no, outras não. Todas estão na sua liberdade. Provavelmente terei de pensar que o defeito é meu, que as não saberei cativar.

Este artigo foi somente um desabafo que, como podes ver, aconteceu no dia do anúncio do "brutal aumento de impostos". Senti-me tão infeliz que me apeteceu lavar a alma com algum riso. Talvez as pessoas estejam pior do que eu e nem sequer lhes apeteça rir.

Beijos

Augusta disse...

Claro que concordo com o que o Tonho diz. Além do mais, quando escreves aumentas um pouco mais a nossa cultura. Fazia lá eu ideia da existência desse livro!
No entanto, há que entender. Afinal há tantas pessoas que nos visitam e têm vergonha em expressar-se. Foram já várias aquelas que mo transmitiram. Mas saber que habitualmente visitam a página já é muito bom.
Beijos aos dois, e para ti Fátima o peido para que não esmoreças

Chanesco disse...

Fátima

Proponho uma palavra sem a certeza que ela se enquadre no âmbito do que o livro que nos dá a conhecer sugere. Mas partilhando do seu desabafo, a palavra é a seguinte:

ENXERGAR - entrever, entender, pressentir, perceber.

Ex.: Eles não "enxergam" que estão a destruir o país.

Um abraço para Rebordainhos

Fátima Pereira Stocker disse...

Augusta

Ah!Ah!Ah!Ah!
O que é que tu me ofereces para não esmorecer?

Fátima Pereira Stocker disse...

Chanesco

Viva Chanesco

A minha ideia não era publicitar o livro, era pôr-nos a brincar com algumas palavras.

Explico: quando ouvi a notícia do aumento dos impostos, praguejei tanto mentalmente que não poderia dizer tais coisas em voz alta. Publicá-las, ainda menos. Mas queria partilhar a minha zanga e, por isso, lembrei-me de Francisco José Freire (o Cândido Lusitano). A primeira frase que me acudiu foi, mais ou menos, assim:

"queiram os senhores ter a fineza de irem saciar-se nos cómodos para comércios lascivos".

Mas tem razão o meu amigo: o verbo enxergar anda a ser pouco conjugado. Ou então, como já diziam os antigos, vivemos nem tempo de tão pouca luz que se não enxerga nada.

Beijos

Abatáglia disse...

Mrs Fátima
pela primeira vez estou a comentar neste teu pequenino mundo, cuja janelinha me abriste com muita amizade e carinho. Prometi que daria uma espreitadela e ainda bem que o fiz, pois veio-me à memória este livro que era muitas vezes citado pelo meu prof de Português.
Thanks, my dear.

Fátima Pereira Stocker disse...

Dear Anabela

What a great honor!

Obrigada pela visita.

Beijos