quinta-feira, 23 de maio de 2013

Georges Moustaki

Era das vozes doces da minha juventude e, creio, da juventude de quase todos aqueles que por aqui vão passando.

 Apetece-me recordá-lo por causa de muitos temas, especialmente este que agora deixo aqui, em que agarra no "Fado Tropical" de Chico Buarque e o adapta para francês, divulgando a alegria e a enorme esperança que foi o nosso 25 de Abril para todos quantos prezam a liberdade. 
  


  



Quem quiser ir cantando, eis a letra (lá para o fim, e para que não restassem dúvidas da paternidade da canção, introduz uma estrofe do original do Chico Buarque)

                  Oh muse, ma complice
                  Petite soeur d'exil
                  Tu as les cicatrices
                  D'un 21 avril.

                  Mais ne sois pas sévère
                  Por ceux qui t'ont déçue
                  De n'avoir rien pu faire
                  Ou de n'avoir jamais su.

                  A ceux qui ne croient plus
                  Voir s'accomplir leur idéal
                  Dis leurs qu'un oeillet rouge
                  A fleuri au Portugal!

                  On crucifie l'Espagne
                  On torture au Chili
                  La guerre du Viêt-Nam
                  Continue dans lóubli

                  Aux quatre coins du Monde
                  Des fréres ennemis
                  S'expliquent par les bombes
                  Par la fureur et le bruit

                  A ceux qui ne croient plus
                  Voir s'accomplir leur idéal
                  Dis leurs qu'un oeillet rouge
                  A fleuri au Portugal!

                  Pour tous les camardes
                  Porchassés dans les villes
                  Enfermés dans les stades
                  Déportés dans les îles

                  Oh muse, ma compagne
                  Ne vois-tu rien venir
                  Je vois comme une flamme
                  Qui éclaire lávenir

                  A ceux qui ne croient plus
                  Voir s'accomplir leur idéal
                  Dis leurs qu'un oeillet rouge
                  A fleuri au Portugal!


                                      Ó musa do meu fado
                                      Ó minha mãe gentil
                                      Te deixo consternado
                                      No primeiro Abril
                                      Mas não sê tão ingrato
                                      Não esquece quem te amou
                                      E em tua densa mata
                                      Se perdeu e se encontrou

                  Débouche une bouteille
                  Prends ton accordéon
                  Que de bouche à oreille
                  S'envolle ta chanson

                  Car, enfin, le soleil
                  Réchauffe les pétales
                  De mille fleurs vermeilles
                  En avril au Portugal!

                  Et cette fleur nouvelle
                  Qui fleurit au Portugal
                  Cést, peut-être, la fin
                  D'un impire colonial.

É engraçada esta última quadra, de que faz bis. Aparentemente, entra em contradição com o refrão do Chico Buarque: "Ai esta terra ainda vai cumprir seu ideal /Ainda vai tornar-se um imenso Portugal" - e, na última vez que é cantado, "Ainda vai tornar-se um império colonial". Esta última forma esclarece, se houvesse dúvidas, aquilo que o Chico pretendia significar: o desejo de que a liberdade recentemente alcançada por Portugal (1974) se estendesse ao Brasil, como se de nova colonização se tratasse. Moustaki traduziu esse anseio de liberdade, desejando que ela chegasse para as colónias do império que Portugal ainda possuía (e à Espanha, e ao Chile, de que recorda os desaparecidos e o estádio cheio de opositores, todos mortos e torturados naquele horrendo Setembro de 1973, entre os quais Víctor Jara; e ao Vietname e a todos os cantos do Mundo de onde fora erradicada). 





7 comentários:

antonio disse...

fÁTIMA: NÃO CONHECIA E FIQUEI MARAVILHADO, AGRADÁVELMENTE SURPREENDIDO COM A INTERPRETAÇÃO DO MOUSTAKI, CUJA LETRA É EXTRAORDINÁRIAMENTE COMOVENTE. PASSAMOS TANTAS VEZES AO LADO DAS COISAS BELAS E NÃO AS VÊMOS NEM AS OUVIMOS... GEORGES FOI ETIQUETADO COM O MÉTÈQUE, MAS, FAZIA PARTE DO ELENCO POETA ENTRE BRASSENS, MONTANT, BECAUT, SALVADORE, NUGARO E TANTOS OUTROS QUE EU ADORAVA, SOBRETUDO AS LETRAS...
ESCUTEI A VESSÃO ORIGINAL DO BUARTE, MAS, NÃO SEI PORQUÊ, A VERSÃO MOUSTAKI MECHEU COMIGO.
ONDE VAIS TU DESENTERRAR TANTA CULTURA GERAL?... BEIJOS

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho

(até me fizeste corar com tal elogio)

Os metecos, muitos séculos antes de Cristo, eram estrangeiros que viviam na cidade de Atenas. Ora, Moustaki, que nasceu no Egipto, tinha pais gregos judeus e passou a viver em França. É o estrangeiro por excelência, tão estrangeiro como alguns dos nomes que citas e para os quais também escreveu canções. Le Métèque é ele próprio, um seu auto-retrato romântico: carantonha de estrangeiro, de judeu errante, de pastor grego, olhos deslavados que lhe dão ar de quem sonha, a ele que deixou de sonhar.
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O poema do Chico Buarque é muito violento, porque violentíssima era a ditadura brasileira. Violenta, cínica e hipócrita, como tão verdadeiramente fica atestado pelo evoluir do poema.

Beijos e obrigada

Idanhense sonhadora disse...

É verdade Fátima ,tb ele pertenceu ao grupo dos meus favoritos , apesar de eu ser mais velhota . Foram tempos de muitos sonhos muitas ilusões ....e a partida dele nestes tempos por que passamos , parece querer chamar-nos a atenção para tanto que afinal deixámos por fazer .Será que conseguimos ainda a força necessária para fazer florir de novo os cravos da Abril ?Esperemos não o desiludir ,mas antes honrar.
um grande abraço

Elvira Carvalho disse...

Foi bom recordar Moustaki. Especialmente nesta canção que eu não conhecia. A versão do Chico sim, mas não esta.
Um abraço e bom fim de semana

Fátima Pereira Stocker disse...

Quina

Tenho a certeza de que, tal como eu e todos os leitores deste blog, a Quina faz de tudo para não deixar secar a flor da liberdade, porque é a flor da esperança.

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Elvira

São ambas lindíssimas, não é verdade?

Beijos

Augusta disse...

Fátima:
Que boas memórias nos trazes. Uma referência de entre os cantadores da LIBERDADE. Lembro-me bem da sua vinda a Portugal e, sim, é muito bom lembrar.
Beijos e obrigada