Era das vozes doces da minha juventude e, creio, da juventude de quase todos aqueles que por aqui vão passando.
Apetece-me recordá-lo por causa de muitos temas, especialmente este que agora deixo aqui, em que agarra no "Fado Tropical" de Chico Buarque e o adapta para francês, divulgando a alegria e a enorme esperança que foi o nosso 25 de Abril para todos quantos prezam a liberdade.
Quem quiser ir cantando, eis a letra (lá para o fim, e para que não restassem dúvidas da paternidade da canção, introduz uma estrofe do original do Chico Buarque)
Oh muse, ma complice
Petite soeur d'exil
Tu as les cicatrices
D'un 21 avril.
Mais ne sois pas sévère
Por ceux qui t'ont déçue
De n'avoir rien pu faire
Ou de n'avoir jamais su.
A ceux qui ne croient plus
Voir s'accomplir leur idéal
Dis leurs qu'un oeillet rouge
A fleuri au Portugal!
On crucifie l'Espagne
On torture au Chili
La guerre du Viêt-Nam
Continue dans lóubli
Aux quatre coins du Monde
Des fréres ennemis
S'expliquent par les bombes
Par la fureur et le bruit
Voir s'accomplir leur idéal
Dis leurs qu'un oeillet rouge
A fleuri au Portugal!
Pour tous les camardes
Porchassés dans les villes
Enfermés dans les stades
Déportés dans les îles
Oh muse, ma compagne
Ne vois-tu rien venir
Je vois comme une flamme
Qui éclaire lávenir
Voir s'accomplir leur idéal
Dis leurs qu'un oeillet rouge
A fleuri au Portugal!
Ó musa do meu fado
Ó minha mãe gentil
Te deixo consternado
No primeiro Abril
Mas não sê tão ingrato
Não esquece quem te amou
E em tua densa mata
Se perdeu e se encontrou
Débouche une bouteille
Prends ton accordéon
Que de bouche à oreille
S'envolle ta chanson
Car, enfin, le soleil
Réchauffe les pétales
De mille fleurs vermeilles
En avril au Portugal!
Et cette fleur nouvelle
Qui fleurit au Portugal
Cést, peut-être, la fin
D'un impire colonial.
É engraçada esta última quadra, de que faz bis. Aparentemente, entra em contradição com o refrão do Chico Buarque: "Ai esta terra ainda vai cumprir seu ideal /Ainda vai tornar-se um imenso Portugal" - e, na última vez que é cantado, "Ainda vai tornar-se um império colonial". Esta última forma esclarece, se houvesse dúvidas, aquilo que o Chico pretendia significar: o desejo de que a liberdade recentemente alcançada por Portugal (1974) se estendesse ao Brasil, como se de nova colonização se tratasse. Moustaki traduziu esse anseio de liberdade, desejando que ela chegasse para as colónias do império que Portugal ainda possuía (e à Espanha, e ao Chile, de que recorda os desaparecidos e o estádio cheio de opositores, todos mortos e torturados naquele horrendo Setembro de 1973, entre os quais Víctor Jara; e ao Vietname e a todos os cantos do Mundo de onde fora erradicada).
Quem quiser recordar a magnífica canção do Chico Buarque pode entrar aqui.
7 comentários:
fÁTIMA: NÃO CONHECIA E FIQUEI MARAVILHADO, AGRADÁVELMENTE SURPREENDIDO COM A INTERPRETAÇÃO DO MOUSTAKI, CUJA LETRA É EXTRAORDINÁRIAMENTE COMOVENTE. PASSAMOS TANTAS VEZES AO LADO DAS COISAS BELAS E NÃO AS VÊMOS NEM AS OUVIMOS... GEORGES FOI ETIQUETADO COM O MÉTÈQUE, MAS, FAZIA PARTE DO ELENCO POETA ENTRE BRASSENS, MONTANT, BECAUT, SALVADORE, NUGARO E TANTOS OUTROS QUE EU ADORAVA, SOBRETUDO AS LETRAS...
ESCUTEI A VESSÃO ORIGINAL DO BUARTE, MAS, NÃO SEI PORQUÊ, A VERSÃO MOUSTAKI MECHEU COMIGO.
ONDE VAIS TU DESENTERRAR TANTA CULTURA GERAL?... BEIJOS
Tonho
(até me fizeste corar com tal elogio)
Os metecos, muitos séculos antes de Cristo, eram estrangeiros que viviam na cidade de Atenas. Ora, Moustaki, que nasceu no Egipto, tinha pais gregos judeus e passou a viver em França. É o estrangeiro por excelência, tão estrangeiro como alguns dos nomes que citas e para os quais também escreveu canções. Le Métèque é ele próprio, um seu auto-retrato romântico: carantonha de estrangeiro, de judeu errante, de pastor grego, olhos deslavados que lhe dão ar de quem sonha, a ele que deixou de sonhar.
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O poema do Chico Buarque é muito violento, porque violentíssima era a ditadura brasileira. Violenta, cínica e hipócrita, como tão verdadeiramente fica atestado pelo evoluir do poema.
Beijos e obrigada
É verdade Fátima ,tb ele pertenceu ao grupo dos meus favoritos , apesar de eu ser mais velhota . Foram tempos de muitos sonhos muitas ilusões ....e a partida dele nestes tempos por que passamos , parece querer chamar-nos a atenção para tanto que afinal deixámos por fazer .Será que conseguimos ainda a força necessária para fazer florir de novo os cravos da Abril ?Esperemos não o desiludir ,mas antes honrar.
um grande abraço
Foi bom recordar Moustaki. Especialmente nesta canção que eu não conhecia. A versão do Chico sim, mas não esta.
Um abraço e bom fim de semana
Quina
Tenho a certeza de que, tal como eu e todos os leitores deste blog, a Quina faz de tudo para não deixar secar a flor da liberdade, porque é a flor da esperança.
Beijos
Elvira
São ambas lindíssimas, não é verdade?
Beijos
Fátima:
Que boas memórias nos trazes. Uma referência de entre os cantadores da LIBERDADE. Lembro-me bem da sua vinda a Portugal e, sim, é muito bom lembrar.
Beijos e obrigada
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